(Seguro um cartaz com a imagem de uma mulher na frente do rosto. São muitos cartazes, todos com imagens de mulheres. Cantarolando, convido que me acompanhem. No caminho para o banheiro vou tirando os cartazes da frente do rosto e os deixo pelo caminho.) (Ainda com cartazes na frente do rosto) Vou começar pelo obvio. Camila, 27 anos. Agora eu poderia listar algumas memórias, (volto a tirar os cartazes da frente do rosto enquanto falo) falar sobre a minha infância, meus pais, minha cachorra, os gatos que já tive, as casas onde morei, os amigos que deixei pelo caminho, aqueles que carrego comigo desde muito tempo, meus desejos, minhas dores, tantas coisas, parece impossível fazer um recorte. Meu Deus! Sim, eu acredito em Deus, Deuses e Deusas. (acendendo velas) Cavalarias de seres de luz. Ando mística ultimamente, para não dizer religiosa. Tenho descoberto tantos eus em mim, talvez, por isso, seja tão difícil escolher sobre quem falar. Essa semana mesmo, apresentou-se para mim a minha guardiã. Eu mesma. (de dentro do box, com a porta fechada, suspensão na posição da guardiã) Mãos fincadas na terra, estado de vigília, protejo a mim, meu território, ergo minhas fronteiras e sei que nada de ruim pode acontecer, pois eu estou aqui fazendo a minha guarda. Atenta. Cuido de mim como ninguém poderia fazer. (desmonto) Durante muito tempo me entreguei aos cuidados e ao descuido dos outros, hoje eu cuido de mim, sou meu próprio colo. Como é difícil enfrentar a mata fechada que pode ser alguém, eu, o outro, é preciso ser Iansã guerreira, humildemente corajosa para enfrentar o desconhecido. Para deixar-se conhecer.(saio do box) Uma sensação de imensidão para dentro. Ando recolhida. Seleciono cautelosamente aqueles que podem cruzar minhas fronteiras e conhecer meus territórios, poucos chegam a me encontrar por aqui. Mas eu disfarço bem e entrego com carinho algum aroma de mim. Até ser encontrada, nas profundezas de mim, pequena e imensa, por sutis e enormes olhos, capazes de perceber que nós, todAs nós, encerramos em nós a origem de todas as coisas. (saio carregando todos os cartazes, como quem embala a si mesma. todas. eu.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário