(Seguro um cartaz com a imagem de uma mulher na frente do rosto. São muitos cartazes, todos com imagens de mulheres. Cantarolando, convido que me acompanhem. No caminho para o banheiro vou tirando os cartazes da frente do rosto e os deixo pelo caminho.) (Ainda com cartazes na frente do rosto) Vou começar pelo obvio. Camila, 27 anos. Agora eu poderia listar algumas memórias, (volto a tirar os cartazes da frente do rosto enquanto falo) falar sobre a minha infância, meus pais, minha cachorra, os gatos que já tive, as casas onde morei, os amigos que deixei pelo caminho, aqueles que carrego comigo desde muito tempo, meus desejos, minhas dores, tantas coisas, parece impossível fazer um recorte. Meu Deus! Sim, eu acredito em Deus, Deuses e Deusas. (acendendo velas) Cavalarias de seres de luz. Ando mística ultimamente, para não dizer religiosa. Tenho descoberto tantos eus em mim, talvez, por isso, seja tão difícil escolher sobre quem falar. Essa semana mesmo, apresentou-se para mim a minha guardiã. Eu mesma. (de dentro do box, com a porta fechada, suspensão na posição da guardiã) Mãos fincadas na terra, estado de vigília, protejo a mim, meu território, ergo minhas fronteiras e sei que nada de ruim pode acontecer, pois eu estou aqui fazendo a minha guarda. Atenta. Cuido de mim como ninguém poderia fazer. (desmonto) Durante muito tempo me entreguei aos cuidados e ao descuido dos outros, hoje eu cuido de mim, sou meu próprio colo. Como é difícil enfrentar a mata fechada que pode ser alguém, eu, o outro, é preciso ser Iansã guerreira, humildemente corajosa para enfrentar o desconhecido. Para deixar-se conhecer.(saio do box) Uma sensação de imensidão para dentro. Ando recolhida. Seleciono cautelosamente aqueles que podem cruzar minhas fronteiras e conhecer meus territórios, poucos chegam a me encontrar por aqui. Mas eu disfarço bem e entrego com carinho algum aroma de mim. Até ser encontrada, nas profundezas de mim, pequena e imensa, por sutis e enormes olhos, capazes de perceber que nós, todAs nós, encerramos em nós a origem de todas as coisas. (saio carregando todos os cartazes, como quem embala a si mesma. todas. eu.)
domingo, 29 de novembro de 2015
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
não sabia usar
uma vez eu conheci um cara que tinha um pau maravilhoso e não sabia usar. uma vez eu conheci um cara que tinha uma cabeça maravilhosa e não sabia usar.
ideia
que tal se a gente escrever no papel higiênicos e nos pequenos pedaços de papel espalhados pela casa?
cotonete
- um bom cotonete é o equilíbrio perfeito entre o prazer e a dor. eu amava que a minha mãe limpasse meu ouvido. na verdade, até hoje eu gosto.
- sabe o complexo de édipo?
- sei.
- então. pensa sobre isso.
- sabe o complexo de édipo?
- sei.
- então. pensa sobre isso.
apresentação reloaded
(arrumando alguma coisa) isso aqui era um material, uma roteirização performática, como diz a gabi, a nossa orientadora de direção. uma cena, não importa, sobre mim. uma apresentação. começava comigo cantando uma música da... como é que é o nome dela, gente? (cantarola) é que meu pai sempre colocava pra tocar no carro, quando a gente tava indo pra escola. daí eu começava a falar sobre mim, que meu nome é ricardo cabral pereira mas que eu não gosto do pereira, que nasci dia nove de abril de mil novecentos e noventa às quatro e vinte da manhã e que sou maconheiro. que sou brasileiro e petropolitano, que sou gay, ariano e pisciano. (procura o papel, entrega para alguém) ó, aqui tá o texto todo, se você quiser ler. mas não tem tanta coisa interessante não. eu sempre odiei fazer essa apresentação. responder quem eu sou. tudo acontece numa sequência muito rápida, sem trégua. eu já nem sei em que acreditar, não tenho tempo nem de pensar. você vive muito depressa, meu pai dizia. essa ganância de viver. o passado... eu não tenho presente, não tenho nada, não fiz nada. por que eu não posso parar um pouco? descansar. não dar mais um passo. eu sinto que tem uma fresta na minha alma por onde a substância do que eu sou está sempre escapando, mas eu não vejo onde nem por que. eu olho pra trás e vejo tudo aquilo que eu fui e que eu não sou mais. eu olho pra trás e vejo tudo aquilo que eu fui e que eu não sou mais. eu não quero me apresentar. o gabriel que se apresente. a chris que se apresente. eles que se apresentem. é a última vez que eu faço essa cena. e eu quero terminar com um trecho do sabino, que nunca me deixaram ler, só porque era cafona: de tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. fazer da interrupção um caminho novo. fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
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