quinta-feira, 26 de novembro de 2015

apresentação reloaded

(arrumando alguma coisa) isso aqui era um material, uma roteirização performática, como diz a gabi, a nossa orientadora de direção. uma cena, não importa, sobre mim. uma apresentação. começava comigo cantando uma música da... como é que é o nome dela, gente? (cantarola) é que meu pai sempre colocava pra tocar no carro, quando a gente tava indo pra escola. daí eu começava a falar sobre mim, que meu nome é ricardo cabral pereira mas que eu não gosto do pereira, que nasci dia nove de abril de mil novecentos e noventa às quatro e vinte da manhã e que sou maconheiro. que sou brasileiro e petropolitano, que sou gay, ariano e pisciano. (procura o papel, entrega para alguém) ó, aqui tá o texto todo, se você quiser ler. mas não tem tanta coisa interessante não. eu sempre odiei fazer essa apresentação. responder quem eu sou. tudo acontece numa sequência muito rápida, sem trégua. eu já nem sei em que acreditar, não tenho tempo nem de pensar. você vive muito depressa, meu pai dizia. essa ganância de viver. o passado... eu não tenho presente, não tenho nada, não fiz nada. por que eu não posso parar um pouco? descansar. não dar mais um passo. eu sinto que tem uma fresta na minha alma por onde a substância do que eu sou está sempre escapando, mas eu não vejo onde nem por que. eu olho pra trás e vejo tudo aquilo que eu fui e que eu não sou mais. eu olho pra trás e vejo tudo aquilo que eu fui e que eu não sou mais. eu não quero me apresentar. o gabriel que se apresente. a chris que se apresente. eles que se apresentem. é a última vez que eu faço essa cena. e eu quero terminar com um trecho do sabino, que nunca me deixaram ler, só porque era cafona: de tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. fazer da interrupção um caminho novo. fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.

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