sábado, 30 de abril de 2016

INCORPORAR PALAVRAS

uma grande folha de papel + carvão

Escrevo: 

'INCORPORAR PALAVRAS

A palavra é o começo de tudo. Com a palavra o universo começou. Com a palavra nós começamos. Somos poemas encarnados. Somos as estórias que moram em nós.

Vou escrever aqui algumas coisas que escutei ao longo dessas 24 horas e que quero que fiquem. Fazendo parte de mim. Vocês em mim. Eu em vocês. Nós.'

(...)

Coloco O alarme para tocar perto do fim. Me visto de palavras. Espero em silêncio. Só, acompanhada.




quarta-feira, 27 de abril de 2016

sobre uma despedida

só queria escrever que aqui escrevi tanta coisa tanto que não foi falado o que queria compartilhado mas não dá nem sei só queria que você imaginasse tudo que pode caber mais fundo no humano que estava aqui e não esta mais porque a gente apaga.


domingo, 10 de abril de 2016

MINHA MÃE

NÃO SABE USAR COMPUTADOR.
MAS JUNTOU CORAGEM, RS.
FEZ CURSO NO SENAC.
SEXTA-FEIRA.
O PROFESSOR QUIS AJUDAR.
DISSE PRA NÃO FICAR NERVOSA.
PRECISAVA RELAXAR.
TOMAR UMA CERVEJINHA.
TALVEZ AULA PARTICULAR.
NO FIM DE SEMANA.
MÃO NA PERNA.
ELA LEVANTA. SAI.

minha mãe tem 60 anos.

domingo, 3 de abril de 2016

Provocação


 Coloco "Cidadão Instigado" pra tocar. Vou arrumar espelhos. Falo para as pessoas que estiverem na sala:

 

-Festa de família. Natal, talvez. De noite.

 

(... )

 

-Não! Sou eu que fugi da família, fugi de casa, fugi de todo mundo procurando todo mundo. Sou eu tentado encontrar na solidão a mim e ao outro. Quem? Quando? Para. Vive, vive apenas. Rilke bem que me avisou que era pra acostumar-se com a presença das perguntas, em vez de angustiar-se com a ausência das respostas. Era, disse ele, para admirar a beleza do não- saber, sem muito mais. Já não sei se foi exatamente isso o que ele disse, mas pelo menos foi assim que tudo aquilo se imprimiu em mim. Chega. A festa de família voltou. Tomo um gole de vinho, meio atordoada. Tudo passou muito rápido e agora me vejo outra vez aqui, sem saber exatamente por que. Chega.

 

Levanto e vou até o banheiro. Descarrego.

 



descontrole, potencial transbordante

[enquanto bebe água sem parar, de cócoras]


Falou a primeira palavra aos 6 meses: nã... quando queria dizer não.
O primeiro passinho veio dois meses depois. Quando deu o primeiro nunca mais engatinhou.
Tinha 4 anos quando leu "Butterfly" na capa de um livrinho.
Aos 5 lia e escrevia em português e inglês
"Criança Prodígio! - Muito Inteligente. Essa aí vai longe... Não sei nem a quem puxou"
Foi oradora da turma do prézinho, tinha 5 anos.
"Tão fofa! é a mais nova da turma e lê melhor que todos os outros"
Ganhou bolsa pra estudar até o último ano do colégio
E se formou  no ensino-médio com dezesseis anos recém completos
"Que potencial, com toda essa inteligência pode fazer o que quiser!"
Entrou de primeira na universidade pública. Com dezenove estava formada.
Entrou de primeira na segunda universidade pública. E Federal.
"Muito Inteligente. Quanto potencial!"
Nunca fez xixi na cama. Na primeira manhã depois de dormir sem fralda, acordou dizendo "sisi, sisi" e esperou até ser levada ao banheiro pra urinar. Nunca vi neném mais inteligente.
"Esse vai longe!! Tem tanto potencial"
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...

[faz xixi e deixa sujo. alguém limpa]