Lavando o rosto no banheiro. Enquanto isso, lá fora, responde-se a um guardanapo de papel com a pergunta "Onde está o amor?", condição para que entrem no banheiro. Quando todos entram, peço que alguém me leia o primeiro bilhete. Escovo os dentes durante a leitura.
"Eu venho tentando o silêncio. Tentando me distrair pra não me pegar pensando em você. Mas não é simples. Dá saudade. Das pernas juntas, dos beijos, das mãos nos cachos, do cheiro..."
Esses dias me perguntaram, de supetão, num pedaço de guardanapo, onde estava o amor. Não soube o que responder, embora muito me tenha passado pela cabeça.
Sinto-me jogado de um lado para outro em meu desejo que, torpe, caminha trôpego, bêbado, numa tentativa risível de voltar pra casa.
Logo no dia seguinte à pergunta do guardanapo, recebi uma mensagem do Gabriel. Ele falava do seu silêncio, do meu, e das possíveis armadilhas que muitos silêncios juntos são capazes de engendrar, às vezes mesmo sem maldade aparente.
É difícil, muito difícil, caminhar sem tropeçar. Tanto quanto, pra mim, viver sem amar. Mas é só quando (suspensão) a gente caminha sem pensar - nas pedras fora do lugar, nas poças que respingam, nas formigas que inevitavelmente se mata, nos desvãos e nos desvios - é só quando a gente caminha sem pensar que não se corre o risco de cair. Que trabalho árduo é o de andar.
Eu acho que eu sinto saudade do futuro. De quando eu conseguir não pensar tanto.
Deus existe? Sim ou não?
E se lhe fosse comprovada a sua existência - ou mesmo sua não existência - isso mudaria seu comportamento no dia-a-dia?
Peço pra que alguém leia o segundo bilhete. Deixo o banheiro antes do fim da leitura.
"Sinto sua falta. De saber de você. De ver você evoluir. Sinto falta de muita coisa. Queria te lembrar disso, pra que a gente não caia em nenhuma armadilha do silêncio. Não quero jogo. Quero verdade, transparência e vontade. Então tá aqui a minha vontade de dizer o que sinto. Sinto falta."
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