(Começa a apresentação no banheiro da casa. (Em algum momento ser interrompida por algum dos atores batendo a porta ou por ou discussão ou uma pílula de ação.)
Sempre tive uma sensação de despertencimento
Sempre tive uma sensação de despertencimento
Do lugar onde nasci, inclusive de mim
Sou filha única de pais com uma leve tendência ao controle
Passei muito tempo brincando sozinha em casa e meu lugar favorito era o banheiro
Era o único comodo que eu podia trancar (tranca a porta)
(Falando mais rápido) Gostava do frescor do banheiro, da água, da banheira, do espelho em cima da pia, das maquiagens e cremes da minha mãe...
Fazia ali minha pequena ilha. Virava uma pirata, india (subo em cima da pia)
Dentro do box tinha um batente onde eu subia e espiava um recorte do mundo lá fora, o prédio vizinho, na verdade, olhava para o apartamento que ficava bem na frente da fresta e espiava seu morador solitário.
(senta na pia e olha para o espelho) Quando dava conta estava de frente para o espelho. Ficava lá não por vaidade, mas para cair dentro do labirinto de minha própria imagem.
Reconhecer que não haveria reconhecimento
que a imagem absurda seria sempre de um outro
dimensões em coexistência
agente e espectadora
deixando-se possuir por todos que não eram ela
na temporalidade cotidiana
pensando que se um padre espiasse pela fechadura
e a inquisição ainda estivesse na ativa
em poucos minutos ela estaria dançando
junto ao fogo onde fora forjada
cabelos delicados quase quebráveis
olhos penetrantes pontiagudos
(falar o que estou vendo, o que reparo no dia)
rosto nosso
absoluto e andrógino
de cuja simbiose indenitária
não pode ainda abrir mão
Lembram da banheira? Tinha um jato na banheira...
(sai. Em algum outro momento da experiência, experimenta)
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