eu pego na sua mão e te trago comigo, para um canto bom, um lugar onde a gente possa conversar. eu estou aqui com você, agora. peço pra você fechar os olhos. pergunto o que você ouve, o que você escuta, dos barulhos mais próximos aos mais afastados, quase irreconhecíveis. então começo a falar. talvez você abra os olhos, talvez não.
minha casa não tinha PORTAS. quer dizer, é claro que tinha, mas elas nunca eram FECHADAS, muito menos TRANCADAS. acho que foi por isso que me acostumei a ouvir CADA RUÍDO da casa.
levo você para uma pequena volta. continua com os olhos fechados?
estou aqui sentado em meu quarto, o quartel general do barulho de toda a casa. ouço baterem todas as portas, ouço ainda a porta do fogão sendo fechada.o pai arromba as portas de meu quarto e o atravessa arrastando a camisola. no aquecedor, no quarto contíguo, as brasas estalam. valli pergunta, da antecâmara, bradando palavra por palavra se o chapéu do pai já foi limpo. a maçaneta da porta da frente é abaixada, e a porta continua se abrindo, com um canto feminino. e fecha-se finalmente com um tranco abafado, masculino, que soa como o mais desconsiderado.
sabia de longe quando o barulho dos CHINELOS batendo no chão era de meu pai. ou, pelo ranger das dobradiças, quando era minha mãe que fechava a JANELA.
trago sua mão pro meu coração, pra você sentir minha pulsação. pra mim, tampouco está sendo fácil falar.
um dia MEU PAI ENTROU NO QUARTO e eu estava com o pau pra fora, duro. eu batia punheta de porta aberta, claro. era muito melhor pra escutar se vinha alguém chegando. durante muito tempo, pra mim o prazer do sexo se resumia ao MOMENTO DO GOZO. só na ARGENTINA comecei a sentir prazer antes de gozar, e a verdade é que até hoje ainda estou aprendendo. talvez porque lá eu pudesse me trancar O QUANTO QUISESSE. minhas portas de la plata foram tão importantes que até hoje guardo minhas chaves de lá, como se elas me EMPODERASSEM de alguma coisa.
abre os olhos. agora, me conta um SEGREDO TEU?
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