domingo, 28 de agosto de 2016

Mariah 20/21

Come CORAGEM que ela vai ficar aí pra SEMPRE!

Fica mais! Tô aqui muitão. pra, por, com – você.

paragem
cadernos Camilinha pra Biba, Fer e Jussara > eu na jornada; tríade anciã; minha amiga mais antiga; meu Lelo; Luíza caderno mais novo, isso é real?

Jussara conta do vitor, me dá colo de mãe e vamos pra cozinha.
é q a Alice eu inventei pq vc tem muito irmão!
Ando devagar. Lá com a Camilinha eu quero escutar você.
As notas são sobre ela, sobre mim, sobre vc, sobre ela, ela, ela, ela....
Menino do Rio eu queria cantado pra mim. Camila canta errando e fica até mais maneiro.

Quero escrever. Marca um pra mim?

Fer, eu amo cada pedacinho de você. Feliz Ano Novo mergulhado no amor.
Fernanda, essa que é a Luiza.

sento rpa escrever.

O Rick É cafona.
As flores chegam.
Filhas de Oxum não vergam.

Lucas chegou.
Oi, bem vindo. Repete. Repete. Repete. Repete.
Regras pro Lucas que vai logo pro banheiro favorito.

Chegam Laura e Laís. Ê BÁ!

Corta meu cabelo?
Abraço PRA SEMPRE que me habita, fala cmg, vive em mim.

Bolo de cenoura? Me declaro!! Força, forca

Corto o cabelo ao som de Camila Comela. Laura e Lucas se revezam no meu corte.
Penteado.

preciso soltar uma pipa. Fuck.

A primeira impressão é a que fica ué.

Casa comigo?!
Caso!!
Cada pedacinho de você com direito a buquê e água aliança passada.

Ando devagar. Joel e cada pedacinho dele;
Potyra e a foto interior rosa da mulher guerreira do amor

Eu já volto. Vou ficar bonita e depilar com dor.
Beijinhos no Seixas e o Biel ama cada pedacinho de mim.

A Lulu chegou. Não é bom sair sozinha. A foto interior precisa de banho e chá pra mudar.
Levo pro banho – peço chá pro Rick.

Rock da mãe com bebê levando embora os materiais da cena. Molhadeira na cozinha. Peixinho cantando pigoquinha e sapatão. O banho é sozinha. Não conta pra minha mãe que eu deixei a água correndo. Canto pra mim. Pra vocês ouvirem. Coro.

Saio de toalha. Me troco. Eu quero vestido e me troco outra vez. Não, não era eu que tava com a calça vermelha. Será?

Vou lá buscar meu chá; Quero.
Marca mais um pra mim?

Manifesto do cafuné com Joel
Qual foi a coisa mais incrível que vocês fizeram na última semana com Joel e Potyra.
Aviãozinho na Julia Janína

Código na cozinha.

Quer apoio? Chocolate em ebulição.
Saio. Volto. Vivo a mágica. 3 de paus e 10 de ouros – eu tbm sou do dia 11!!
Que maaaaassa!!

”Eu sou bem pequenininha.” Holofote coro!

Saio. biblioteca. Cadê a musica que eu quero?
Mariah!!!
Caos. Fluxo de fala. Não pisa na conchinha. PÁÁÁÁ ÁÁÁÁ´. Parabéns, Fernandinha!
O bolo é nosso. Os cortes são livres. Como. Me penteia?

Rolei na terra. Ela varre. To com a pá. Repito. Repito. Repito. Repito. Repito mais lento. Lixo.

Me penteia de novo?

Emolduro – ME

Você pode me dar um colo? Precisar não, só querer mesmo.
Preciso trabalhar. Trabalho aqui. Paragem no colo por tempo esgarçado.
”Que bonito”
Meu coração não agüenta sempre isso. Não é uma bitoca e uma fuga. É um coração batendo por dois. O chocolate em ebulição é uma boa foto interna.

Não o que? Afastando a lembrança. Se eu contar ela volta e não quero meu pai aqui. Vou pra lama que eu já passo por isso, banho e esqueço.

Poxa, logo agora que eu to cheirosa e o meu cabelo ta maneirão. Vc faz outro?

Estratégias pra lidar com a tristeza. O queixo bate. Um carinho dela. Quer café? Ele lê. Como vc faz? Eu tenho estratégias genéticas. Já passou. Meus livros preferidos. Abandono. Escrevo. Red Bull.

Ainda são 21h!!

Cozinha. Vitor. Luas. Qual meu ascendente da revolução solar?
Faço croissants. Vou lá pra fora.
Você vai me levar pra algum lugar? Vou me despedir e levo.
cobetor. Biblioteca. Cafuné. As palavras que não são minhas ao mesmo tempo que são muito maiores que eu me cabem perfeitamente.
Ricardo chega. Quando vc perde a noção do tempo.
Ela vai embora. Trabalho de pau duro. Jogar. Sexo. Leitura.
Saio. Abandono. Falta de Ar. Abraço no pé da Livinha. Quero choro.

Bel me abraça por trás.
Ta sem luz.
Cozinha. Ta confuso. Meu coração ta pesado.
Camilinha me olha fundo e canta. Gritam lá no quarto. Uivo. Mulher negra empoderada. Angústia.
Me enrolo, prendo, amordaço, amarro. Dói. Olhos e boca tapados. Ricardo bate o cajón. A batida me chama de volta. Me esforço. Rompo a corda. De trincheira vou pro quarto, me cubro e fico.
Rick chega. Abraço quente. Angústia grande.
As mulheres na sala me evocam. Pq eu não consigo chorar?

Percebo que eu to esperando, buscando....
”Gatas extraordinárias” Levanto! To em cena, vivona.
Livinha, que saudade! Eu te amo tanto, cada pedacinho....

Passarinho quis voar e voou, eu não atrapalho não.
Camilinha no quarto chora que faz bem – A gente precisa é de um cachê maior.
Chega a Britney de Goiás. Me arrumo. As Spice Girls de casavazia. UFA!
canta, canta, canta, bagunça e abandona.
Chega a família lindona do Marcos. Recebo, Apresento.

Volto e “menina musa do verão”

Vamos jantar? Não é festa!! Falo pra vc pq vc ta na minha frente

Apresentação magnética Luana e Luisa.
Jantar. Falta luz.  A angústia volta, uma vontade de não estar.
deito com Lulu. Ela tem u  problema sério que não me diz. Respeito. Bel dá a aceitação chocolate.

Nem me recuperei do afogamento e to querendo nadar outra vez. “Mas quem te ensinou a nadar?” Foi os peixinhos do mar!

Mangueira do bombeiro. Eu te vejo, você me vê. Nos vemos. E eu vou pq é a coisa eu eu mais amo no mundo. Me deixa inteira e vai estar cada minutinho comigo.

Camilinha! Que saudade!!
A Lua ta cheia, eu to na tpm, estamos em casavazia, mas existe uma chance mínima...

Falei, ufa! Segura aí essa bomba q tava engasgada na minha garganta.

Não ultrapasse! Escrevo.
Jogo das pílulas: uma intimidade, uma surpresa, troca de roupa, lavo o cu. Melancia. Vestido outra vez.

Rick me dá um beijo gostosão e apressado. Eu fico com um pouquinho de vergonha. Marca mais um?

Me recuso a ter medo. Ervas daninhas morrem.
Julio bonito, é água das paineiras? É.
Selinhos errantes no Biel. Me abraça. Lightpainting euforia.
Maior manifesto do cafuné da história! Bonito. Delícia. PRRR.... E aí, de repente, ganhei um cafuné de corpo todo de muitas mãos. Das melhores sensações da vida...

Arruma, arruma, come, quero dormir.
Quando vou lá dentro, Camila, Chris e Rick tão acordados, mas eu fico rpa saber a verdade dendê de cada um e tentar descobrir a minha. Isso vai passar. Isso tbm vai passar.

MARIAH!!
Lá fora tem gente acordada e todos os atores estão aqui. Vou, mas meio a contra-gosto.
Chá dos elementos – material irado.
Eu passo por uma rodada de fotos interiores tão satisfatórias que quando tiro uma selfie descubro que gosto muito dela.
Foi-se o desconforto.

A galera vem porá fora. Peço colo. Vamos descansar só um pouquinho, por favor.
Adoro vc. Muitão. eu tbm. Mesmo.

cama. Me chama em 30 min? Promete?
desconfortável.
quando ela volta e não cabe, eu saio.
ta dia.

banho quente. Saio. banalidades.
Que energético horrível...  nojento é a palavra.
como volto pro jogo?
peço texto pra Bel. Ela não tem.
Ajuda pra Camilinha. Indisponível.
Ajuda pro Biel. Ele levanta e traz o café da manhã pra sala.

Apito. Bel apita. Apito à chuva;
To em silêncio.
Que onda...

Observo. Colo da Lulu. Leite condensado. Movimento;

to zoando! Danço.
Abraço, abraço, abraço.

Vídeo pra Aninha. Não gostei muito....
Crianças. APOIO! Apoio, apoio.

Dança música tatuagem lenço barquinho

Apoio!
Tchau geral.

Trilogia de Vaurea e Laura. Fazer sala. Mestre André. Canção.
Sala, sala, sala. Cafuná. Cafuné.
Muita história aqui!
Sala ideal é varrida. Varro. Mais gente chega. Refúgio no quarto.

vídeo Aninha. Revs chega. Abraço César.
Incrível Revs. Lança Revs. Postura Revs.
Corpo de presença. Dança Camilinha. Cotonete Rick.

Você cumpriu mais um objetivo!
Não avai acabar. São 13:05h

Camilinha, faz uma cabaninha comigo?
Acompanha o pássaro. Anna chega. Camilinha chora. Eu tremo.

Canta canta mas a dança da solidão é dobrada. Quando eu penso no futuro não esqueço do passado. Me vendo. Não quero ver isso, mas quero ver/fazer a energia circular. Desvendo.

Já te apresentaram a casa, Anna? Esse cantinho é da Camila e meu. Você escolhe uma foto e te conto uma história.
Essa?!
O tempo não é linear. Essa é minha melhor amiga. Ela me deu um dia de presente. 20 de novembro eu evoco pra receber todos aqueles anos e deixar transbordar um amor que nunca coube só em mim. Ela chora, eu sigo.

Mariah!
O texto.
Rick começa a falar. Eu interrompo.
Comunicação é sempre amor. O ator finge que finge....
Apagamos, mas faltam 10. AAAAAHHH

Abraço, pulo. Acaba pra cima. Centro ativo.

Toma uma cerveja cmg?

sábado, 27 de agosto de 2016

Foi tudo muito diferente.

Absolutamente diferente. Chega a ser difícil comparar as experiências. Vou tentar resgatar imagens. Uma festa de aniversário animadésima que era pura fogueira. Depois, Camila varre o que sobrou com a sala praticamente vazia. A vivência sinestésica da Chris com a Lívia e sua amiga que não lembro o nome: foi doido perceber como eu poderia ser parte daquilo de um jeito muito sutil. O material das mulheres assistido por homens. Uma declaração de amor apaixonada e molhada durante a madrugada, irrepetível. Por sinal, é interessantíssimo ver como a exaustão da madrugada gera cenas que nem sabemos que são cenas, como a Clara bem mostrou: eu peregrinando com o colchonete, eu fugindo dos convidados, Luiza chorando órfã de cama. Reconsidere sua relação com a madrugada, eu diria a mim mesmo. E aproveite a exaustão. Sigo. Uma incrível arrumação de casa com música a todo volume naquele domingo de manhã chuvoso com cara de estereótipo de dia de faxina. Crianças, crianças, crianças! Eu, Chris, Lucas e Biba no camarim listando chrises, contando sonhos, desfiando labirintos de fios, fomentando o debate sobre o femenino e trocando de roupa. A minha relação com o Ricardo. Fiquei com medo, deixei ele gastar-se um pouco e depois tivemos vários momentos especiais. Sinto que ele foi seduzido pelo trabalho. Na verdade, de uma maneira geral, me senti seduzindo os convidados - não a partir de um lugar de enamoramento, mas a partir do próprio significado da palavra: TRAZER PARA SI. Se na primeira edição a tônica para mim foi o interesse, dessa vez foi a sedução. Seduzi o Ricardo, a Laura, o Lucas, a Fernanda, a Biba, o Victor, a Ju, o namorado do Renan... alguns menos, outros mais, com mais ou menos êxito. Mais imagens-momentos: sigamos. Roda de histórias ao redor da mesa quando a luz acabou. A surpresa com a Mariah. Ler o texto do armário para quem estivesse no banheiro. Um outro jeito de ver segredo aparece numa fogueira no quarto, com Chris e Lucas, depois Ricardo, depois Camila, depois Tupi e seu amigo. Um papo muito louco e muito bom sobre casas movediças e o nosso tamanho em cada casa com Laura reverbera na Lais e na Maíra e depois no Ricardo. Casas são casas ou pessoas? Não importa. E tudo começou comigo descascando cenoura. Eu nem sabia pra quê era. E quando vi juntei ao meu redor quem gostava de beliscar uma cenourinha crua. Despedidas emocionantes com Victor, Lucas, Ricardo (acho que convenci ele a não sair à fancesa), Biba, Fernanda, Lais e no fim com todos, quando eram quase duas da tarde. Acho que finalmente entendi o "escuta, chris", especialmente depois da residência. Um começo de manhã muito confuso, muito estranho, levemente desesperador, e a construção do retorno ao jogo. O já-virou-material-da-manhã da Camila. Começar a cortar cebolas para fazer o almoço sem saber o que íamos cozinhar. E de repente éramos quatro. E de repente pensávamos juntos sobre lança, madeira e movimento. E de repente desconhecidos trocavam entre si. Uma pequena fogueira, na escuridão da noite, com Tupi, seu amigo e Chris. Depois Camila. Eu, Camila e Chris lutando com João Caetano e sua trupe. Gente, o João Caetano foi. Que bom que acordei. A casa estava cheia o tempo inteiro. Uma roda final de cantoria. Ver a Wálria cantando foi lindo. A presença constante da Ju criava um lindo embate entre diferenças. O sorriso interminável da Fernanda. Uma centopeia humana de cafunés. O carinho do Joel e da Potira. O quadro do Lucas como disparador da carta da mãe deu num papo lindo com a Potira. Acho que revendo esse percurso o que fica mais forte para mim é o coletivo. Minha trajetória, dessa vez, foi bem menos individual. Sempre havia alguém, ou melhor, não sempre mas muitas vezes. E isso é muito bom. Isso fortalece. A gente não precisa estar separados para dar conta de pequenos grupos. É MUITO mais fácil quando estamos juntos, contracenando e jogando juntos. Porque um compra a proposta do outro e assim podemos ir mais fundo com os convidados. E porque inevitavelmente a gente escorrega. E escorregar com alguém do seu lado é muito melhor. Eu me sinto muito, muito agradecido pelas 24 horas que eu vivi ao lado desse coletivo maravilhoso. Pura vibração de

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Demorei a entender que dia é hoje

Demorei a entender que dia é hoje. Era o que eu escreveria primeiro mas – hoje é dia oito e devem ser umas dez e meia ou onze da manhã. Estou sentado aqui no meu quarto, o quartel general do barulho de toda a casa – não, sem material, vai. Estou sentado à mesa da sala, de frente para a janela. O Gabriel acabou de sair. É uma delícia estar só, depois de tanta mistura. Ontem, enquanto conversávamos, vez ou outra me batia um reflexo-jogo, momento daqueles em que os convidados, mesmo sem saber, atiram eles próprios a isca para entrar na rede-jogo-teia-casa-vazia. Mas me segurei. É preciso, me parece, reforçar os limites da vida e do jogo na hora de voltar pra casa. Pelo menos pra mim. Em 2014, lembro-me que foi chocante perceber a exaustão física do meu corpo no diia seguinte. Dessa vez – apesar de meu corpo estar um tanto atordoado – o que me gritou foi ontem à noite, quando transamos eu e Gabriel. Eu nunca, em toda minha vida, havia sentido meu corpo tão sensível ao toque. Nunca. Mesmo. As minhas terminações nervosas pareciam haver se elevado à potência mil e se espaçhado por todo meu corpo, que não ficava imune à nada. Mesmo. Não me reconheci em mim mesmo e me perguntei se seria isso um rastro daquela qualidade de presença do jogo. (Ao longo do dia, três desconhecidos puxariam papo comigo em situações improváveis, como no caixa do supermercado – mais rastro?) Parei de escrever um pouquinho para me espreguiçar. Durante a noite, muitas imagens pipocavam em minha cabeça. Sonho? Lembrança? Jogo? Largo a caneta, cruzo os braços, miro as árvores e tento recuperar um pouco da minha trajetória enquanto um pelo branco do Louis passa levitando pelo espaço. Um começo diferente. Não queria receber. Aliás, tive imensa dificuldade de receber as pessoas, apresentar a casa e dar as regras. Não queria, nunca queria, fazia com muito esforço e muito desgaste. Ontem, conversando com o Gabriel, me dei conta da importância desse momento e quero colocar para mim como desafio das próximas edições (não sei por que escrevi no plural, juro que pensei no singular) investigas as boas vindas. O Gabriel foi recebido por outro convidado e ele e seu grupo não foram apresentados à casa nem às regras. Ele comparou a sensação de sábado à do ensaio aberto e disse que havia outra qualidade de acolhimento. Da mesma forma, ainda que eu não soubesse do histórico de perdições da família-vovô-cosmos, sinto que eu poderia tê-los recebido com mais acolhimento. Quero que a recepção, para mim, seja um dispositivo-material, com algumas arestas abertas e outras fechadas – talvez isso me ajude. Vamos ver. Voltando ao (Louis passa pelo meu pé e paro para fazer-lhe um carinho – sempre achei engraçado, aliás, quem fala dar carinho) Voltando ao começo, enfim. Fiquei esperando no camarim. Criei um campo de atração e queria que alguém viesse até mim. Foi o Felipe, do ecomuseu. Meu primeiro material foi a morte-pássaro do meu avô-música. Ao longo das 24 horas, a partitura objeto-aleatório do meu mural passaria a ser dele, o meu avô que era música, música de passarinho revoada de pássaro. Eu não parei no primeiro quarto inteiro do jogo. Pulava de pessoa em pessoa, de material em material, de ação em ação. Foi muita, muita coisa. Mas não me senti ansioso. O fluxo era intenso, mas não senti que ele me atropelava. (Ah! Lembrei que a única vez que gostei da minha recepção/apresentação foi com Isis e Luiza, pensar sobre isso depois: terminamos no material da minha mãe.) Os momentos que encontrei para relaxar, durante esse tempo, foram ver as estrelas e ter conversa ao pé de ouvido; e fazer a Cachoeira de S. Jorge, que por algum motivo me despressurizava. Adorei: ver os convidados se contando na geladeira, me dar para a Isis cuidar, tirar várias fotos interiores (lembrar do final com chocolate!), me apropriar do GPcéu, tomar chá e não saber o que ia acontecer, ver o por-do-sol junto e não saber o que ia acontecer, contar os desastres, servir água. É importante pensar sobre a execução dos dispositivos. Como o Gabriel falou em nossa pequena primeira reunião. Quando se abriu uma cratera em mim e eu mergulhei sem volta na angústia, foi o dispositivo que me salvou. Não vou escrever sobre a Karen, pois já falei demais (demais mesmo) sobre ela de modo que não tenho vontade. Mas é preciso dizer que, para mim, ali também fui salvo pela ênfase sobre a ficção, sobre o trabalho, sobre a teatralidade. Os offs me parecem ainda mais importantes agora. Ah, não me senti mal, dessa vez, pelas pessoas com quem não estive: abracei-as e falei sobre isso com elas, sobre a saudade (as folhas acabaram e fui pegar mais) do futuro do pretérito – quero desenvolver mais isso. É preciso acostumar-se a estar em pesquisa, é preciso reler o papel que a Luiza me deu. Não posso perder aquilo jamais. Parece óbvio, eu sei, mas é preciso aceitar o mar aberto que é esse jogo. Que manhã, por exemplo. Que manhã do caralho. Efervescente, diferente de tudo o que acontecera até ali. Cafés, canções, correrias, comilança, crise, cozinha, tudo com cê. E mais: risadas, beijo na boca, apito dos infernos. Também gostei de que tenhamos falado muito do processo, com várias meta-conversas, especialmente nos dois últimos terços do jogo, mas acho que podemos encontrar uma forma de incorporar mais isso ao jogo. Repouso a caneta na mesa. Já falei tanto que estou perdido, não sei mais o que tenho a dizer por agora. Será que nossa casa também tem uma cruz? Santa Cruz. Será que nossa casa também é santa? Mover livro e fazer cafuné é como tomar chá e assistir por-do-sol. De todas as fogueiras da casa, a fogueira foi a menor das fogueiras. Cozinhar também é como mover livro. Por que não propus? Chega, não consigo mais escrever. Que bom que teremos outras 24 horas, sinto que tudo pode ser muito diferente e muito menos ansioso.

NOTAS SOBRE UMA CASA
- controle de presença + pergunta quanto vale no mesmo cantinho: um cantinho obrigatório
- como criar um fluxo de comunicação?
- começar os materiais com ações e tudo bem se não acontecer (xixi Mariah, varrer, fazer chá, escrever em guardanapo...)
- primeira metade pra fora, segunda metade pra dentro
- eu tive uma tarde ativa, uma noite despedaçada, uma meia-noite de entendimento, uma madrugada calma, uma manhã bem humorada, um meio-dia em que a casa era minha mesmo, e tinha gente por ali.
- terminar relação, fazer material do Samu e me apaixonar eram três dispositivos a que me propus. Cumpri os dois primeiros sem pensar, sem planejar, percebi agora, acho que a gente cria um mantra, tipo GPcéu. Não sei se outro motivo para a crise foi porque eu me apaixonei e fui abandonado ou porque tive prestes a me apaixonar e de repente não tive mais.


missões:
Investigar as boas vindas
Pensar ações que podem preceder cada material
Pensar materiais nos quais as boas vindas podem desembocar
Off

materiais:
olhar as estrelas com conversa ao pé do ouvido
gpcéu
desastres
servir água
saudade do futuro do pretério
entrevista com cigarro no banheiro
abraço que não se toca no box

terça-feira, 16 de agosto de 2016

antigo 2015.1 - doído

eu não tô com a menor condição de permanecer parte desse processo por uma questão de corpo, tempo e espaço. corpo pq não faço a menor ideia de quem eu sou, de como me reorganizar... to me sentindo dragada de energia. precisando parar e revisar tudo - não fosse por édipo e eu pararia o semestre inteiro, talvez saísse até do Rio. tempo pq o espaço na minha agenda reservado pra casavazia é o mínimo - é só a segunda mesmo, q por ser de manhã não consigo nem produzir no meu melhor... não tenho conseguido trabalhar em casavazia fora desse período e isso não é o que eu entendo por fazer teatral... e espaço pq não to achando espaço pra esse processo dentro de mim e nem espaço pra mim no processo. eu sei que fui eu que te pedi pra participar da sua pesquisa, mas lidar com a autobiografia tem sido muito doloroso pra mim... mostrar os áudios e os vídeos pros meninos me tirou do eixo, tocou em feridas minhas q eu não tô pronta pra mexer agora. Minha relação com minha família tá instável, mudando, se refazendo... terminar com a Anna foi um baque muito maior do q eu achei q pudesse ser, eu não esperava que fosse assim, mas to me sentindo derrubada, derrotada mesmo e a gente brincou com o fato deu não dizer não... mas tô precisando ficar recolhida um pouco, sem exposição...e sem a exposição que casavazia demanda de mim. nesses quatro anos de teatro, eu nunca saí de um processo - mas, na real, não to me sentindo dentro. não consigo atender as demandas artísticas nem de produção... me despir de mim e buscar me refazer tem sido doloroso demais... eu acho q vou sair melhor de todo essa busca.. vou me vencer, eu sei disso. Mas tem levado um tempo maior do que eu achei... tempo esse que o processo não tem. Eu tenho certeza absoluta que casavazia ainda vai viajar muito, que vai ganhar muitos prêmios e crescer - mas tem sido por isso que eu tenho me mantido no processo. Aquela experiência de 24h foi um desafio excepcional, uma descoberta artística maravilhosa - mas não to me sentindo inteira pra continuar. não posso continuar com vcs pq sei que o projeto vai dar certo, seria muito egoísmo - eu não me vejo no mesmo gás que todos estão, com a mesma garra, com a mesma vontade... eu preciso parar. eu faltei ao último ensaio e não consegui nem dar uma satisfação, não tô achando força em mim pra isso, Biel. Me desculpa mesmo. muito muito muito. vou dizer isso pra todos, mas queria falar com vc primeiro desculpa não ser pessoalmente tbm... não tinha isso muito claro por isso não falei antes. espero que a gente possa continuar trabalhando junto e que esse erro não nos impeça disso. Ser dirigida por vc eh um aprendizado constante... mas agora falando pro Biel meu amigo e não meu diretor... eu não to conseguindo

mariah 13/14

Eu não sei o que a gente produziu - um material final - uma criação.
Mas o meu corpo tá vibrando ainda.
Eu costumo medir como eu vôo pelas pessoas com as quais eu vou. E me senti voando Alto. Num bando grande de gaivota, que, revezando a liderança, ia abrindo espaço no céu pra gente entrar numas nuvens que não teria coragem de entrar sozinha. Na nuvem da capoeira, da bola, do pixo, do grafite, do presente de aniversário, do cajón, das crianças, da dança.... Eu só entrei. Fingi que sabia e acabei sabendo.
Que delícia que é voar junto, né?
Minha avó costuma dizer que se eu tô quieta é pq tô fazendo arte. Alguém conta pra ela que quando eu tô bagunçando eu tô fazendo Arte também?
Descobri.
Que horizontal tbm é diagonal. Que paixão cênica tbm é movente. Que 13 de agosto é um dia irado pra fazer aniversário. Que todo mundo guarda no coração um desejo bem grande de contribuir, de participar. Que comida colorida é mágica. Que desejar pra mim e entregar pra vc é muito importante. Que receber seu desejo tem um tempero diferente. Que os sabores e os saberes são mesmo primos. Que o receio, primo jovem e aventureiro do medo, é um caçula muito mais maneiro. Que eu amo cada pedacinho - e é verdaaaade. que grafitar nossos corpos é ultrapassar os muros. que dança no asfalto é cria. que carvão é tinta. que precisa de carvão. que sem lama, ainda sobra mangueira, areia, cinto, fio e fita. que a piscina, a biblioteca e o jardim vão ficar cmg pra sempre. que dedo no bolo é necessário. que café com pão é música. que música é sobre soltar. que ser criança com as crianças é perigoso. que ser criança com adultos é fácil. mas que ser adulta com as crianças é potente à beça. que é ainda mais potente na dupla que se olha e joga junto. que um não beijo às vezes é um abraço de corpo todinho. que ficar de cabeça pra baixo provoca. que os sotaques dançam. que sangue bom ensina brincando. que cozinhar é prazeroso. que velhinhas tbm traficam. e que velinhas queimam. que os abraços....Ah, os abraços. que ser tia é tão bom quanto ser sobrinha. que produzir tbm é criar. que festa cabe. que festa junta. que festa espalha. que mesas grandes são parte de quem eu sou. Que Naquela mesa só faltava Ele. Que naquela mesa tava todo mundo que tinha que estar. que jantar. que talvez tenha faltado aquela última roda. ou talvez tenha faltado aquela última vela. ou talvez tenha faltado aquele último texto. mas que talvez não tenha mesmo faltado nada. que faca. que faça. que juntxs.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Aprender a não sofrer, pode ser uma lição.
A Dor faz parte, tanto aqui quanto em marte. Feliz de quem transforma a dor em Arte!

Arrogância é o sentimento que caracteriza a falta de humildade. É comum conotar a pessoa que apresenta este sentimento como alguém que não deseja ouvir os outros, aprender algo de que não saiba ou sentir-se ao mesmo nível do seu próximo. São sinônimos, o orgulhoexcessivo, a soberba, a altivez, o excesso de vaidade pelo próprio saber ou o sucesso.

A arrogância pode igualmente ser sinônimo de coragem, de assumir as suas próprias opiniõesidentidade ou personalidade. Provém do latim arrogare, logo o verbo arrogar aplica-se, sendo o sentido negativo, muito mais em voga no discurso informal, provavelmente iniciado pela inveja. A arrogância, ou o arrogar, não é, com efeito, pecado mortal ou até mesmo pecado de todo no sentido religioso. Será necessário recorrer a pseudo sinônimos sem base de étimo ou linguística para assim se justificar a corruptela de uma palavra que pode, ser positiva.


arrogância
substantivo feminino
  1. 1.
    ato ou efeito de arrogar(-se), de atribuir a si direito, poder ou privilégio.
  2. 2.
    p.ext. qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; orgulho ostensivo, altivez.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Mariah 67

Recebo com água das paineiras.
Assina meu corpo de presença?

Vou pro Quaro e me interesso real. Agora sim começa.
A mulher. mulher. mulher. Há mulher.
Quando? Com 4 anos no primeiro estupro.
Chrises. Vínculo. Assina em mim.

Abraço graaande. Rick muralha.
História Marcos [7 traficantes. Primeira brincadeira aos 12. tem gente q não percebe q sou preto]
Crianças. Suor. Um pouco fora. Bola.
O xixi é intimista. Paciência. Espera. Tempo irado, Bel!
Rock da mãe. Mas eu to de roupa. Então faço uma música pro Rafael, meu melhor amigo pra sempre!

Depois do banho, um medo profundo.
Edgar. Espelho Down. Foto interior.
Falta sinceridade. A sinceridade é meio amarga.
Abraço apertado na Lulu. Depois do abacaxi a gente começa.

Sento pra escrever pela primeira vez.
Sou interrompida.

Filipe – rinha de cachorros e abatedores de porcos. Lama. Psoríase. Cru. Crueldade. Lama.
Áudio falha – acaba.
Banho.

Feliz aniversário, obrigada pelo bolo
Faz sala. Tapete, al,mofadas e música. Ta foda a música.
Tiro uma foto. No arquivo da memória. Descrevo. Que luz!

Fogo me queima. Escrevo pela segunda vez,

Qual é o seu caderno? Adivinha! Tanto faz. Vou anotar aqui [KAREN LAMEGO] Me acha no facebook? Ok

Louça com a entrevista do Samu
Um segredo com Lulu. Não é pra ficar triste. Ta tudo bem. Vai ficar tudo bem. Mesmo.

Potência da tristeza/raiva/alegria.
Ela sai. Eu saio.

Naquela mesa o Lelo. Já vôooo!!

Mar ~~~~ Iah!!! >>>

entrevista Samu com Camilinha.
Apresentação pra Laís. Com Lais.

Lu, eu amo cada pedacinho de você. Muito!

Mulheres. Roda. Cama. Mulheres. Sobe tbm. Abraça aqui. Mulheres.

escrita.

Camilinha, tamo junto! Amo cada pedacinho de você!
Cigarro pra Camila e pra Lulu. Será q é cena, Maíra?

História do trem com grupinho de amigos. Foda-se a regra. Quando foi a última vez q vc burlou uma?

Biel, ilumina o chapéu. É chtão fazer isso agora, mas.... quanto vale a circulação da pergunta artística. Tchau, obrigada!

Corpo de presença. Se coloca em mim.
No plexo. Onde vc quiser. Nem escolhi, só coloquei.

FIM DO PRIMEIRO ATO.

Reuniãozinha pra comida. Sapatão. Primeiras vezes.

Foto interior Gabriel Naumann e Lulu. Que fotos lindas. Adoro quando a foto interior satisfaz...

”Quero falar com vc!”
Fecha os olhos, céu de estrelas. Não tem amor a primeira vista.

Paixão > Trabalho > Embrulho.
Isso aqui pra mim eh cena, trabalho.

Cadê a Lu?
Me procurando tbm! Que carta... é encontro.

phu... Já são 22h. vou tomar um redbull e começar.
Arrotei “W”

Fui fazer a lama, mas tem gente chegando. Melhor esperar um pouco.
Irrite Alguém. Agora não... tem tempo...

Beba água e ofereça água sem parar durante 30 minutos. Ufa! Uma ação.

É só um baseado!!

Chegou gente.
Não parece mas é um chapéu.
Meus podres eu mostro!!

Apresentação magnética. Sapa maneira.
Vovô Cosmos.

Lama demorada demais. Q difícil esse colchão sozinha.... Estado.
Lama pra poucos. Matheus.

Banho. Tremedeira. Rock da mãe esvaziado.
Ta foda gente. Reuniãozinha no banheiro.

Saio em jogo. Foi todo mundo embora. Ta rolando uma DR.
Texto atenção e presença.  Quem nunca sofreu por amor pode amar?

Pílula. Cafuné.
Me dá um beijo? Não.

Eu te amo. O que isso quer dizer? Estímulos [estimulações]

Capoeira.
Essa cama eh das mulheres!!

Red bull – olho esbugalhado.
Manias. Caderno > Rick, Vero, Mãe, Si, Eleonora – tríade anciã -, Eu, Camilinha.

Deitar no colo da Luisa.
Shiiu


-
Acorda. Repetições. Circulação. (irrite alguém(s)) apito. Apito. Apito. Apiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito. ...
Prepara o café da manhã.  Beijo na boca. Carta pra mim. Pra mim vezes dois.

Água. Pra todo mundo. Café voador.
Estratégias pra lidar com a tristeza.

Sinto muito. Mas eu não posso lidar com isso.

Me abraça forte. Leva tudo, Descarregada. Leva. Leve.

Lavo.
Lavou louco pq gosto. Lavo.

Materializo a foto interior. E na biblioteca vivo a incrível da semana, a mudança da foto.
Maãe é mãe. Abraço nelas outra vez.
Palavras pra Chris.
Que PÉrfeição da Natureza.

Apresentação Magnética Dani. BUM!

Vai pra sala. Cadernos da Camilinha.
Capoeira + Sala pra Ana Paula.
Equilíbrio Chris.

Cocô.

Presente amarelo Florioso. Penteado.

Lama não.
Estratégias pra lidar com os materiais.
Fala um material pra eu fazer?

Tome um banho no chuveirão.

Sento e escrevo.
Ainda tem gente pra chegar, Meu estômago ta embrulhado. Ainda são 11h.

Corpo de presença.
Cozinha!!

Não tem louça. Ela fecha a porta. Mais beijinhos. mais. mais. mais.

Música. Rick dança sensual com a geladeira. Ela cmg. Ufa.

Vem o Tutti. Até a caixa estourou. Vamos aprender. Elxs tão ensinando. Conversa!!!

A melancia é com alho e a gente come brincando. Limpa a mão e a boca na roupa.

Chris vendada e o cheiro é verde.
Na sala as mulheres. Yemanjá. Oxum. E a onda do mar desfaz-se.
Recebe Adelita.

Trabalhoso!!

Volta pra cozinha. Ela ta lá e ta pra mim. Saio.

Corpo de presença João. Cvjxscgf

Eu e a foto de pequena desfilando. Mesma cara

Preciso conversar. Camilinha acolhedora.
São 13:30h e o almoço é junto. A Chris avisa que o pai da Camila ta vindo.

Compra uma coca pra mim?
Pai da Camila chegou. Aperto de mão que coloca na distância.
Apresentação magnética e a percepção de que não sobra mais nada pra dar.
Abraço de 15 min. Não tenho centro, não tenho mais força. Me segura, Biel.

Acaba em grito. Grito meu. Choro da Camila.
Já passa de 14h mas ainda falta um abraço final. Levou o que eu já nem tinha.

Banho. Berro. (Alívio Rick Leão). Carinho. Comida. Chocolate. Desprodução. Trânsito. É bom falar.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Rock do amigo

Rafael eh meu amigo
meu amigo imaginario
nçao toma banho comigo
e eu só sei rimar com otario
mas o rafa nao el
mas o rafa nao el

o rafaeel

parede Mariah e Miguel

Vc escolhe uma foto. Eu te conto uma história. Juntxs nos sabemos

confortável e estratégico

Eu coloco esses livros aqui quando fica difícil respirar.... quando parece que o Vazio dentro do meu peito é tão fundo, mas tão fundo, que pesa.

Aí eu durmo com livros no peito, pra ajudar a respirar...

Vc tem uma estratégia pra lidar com o peso da Tristeza?

Acho que isso é uma coisa meio genética...

A minha avó me contou que quando ela tinha dois anos a mãe dela, minha bisa, morreu. E o meu avô, que era mordomo de um conde, trabalhava muito e colocou ela e a irmã num colégio interno em Petrópolis. Nos domingos era dia de visita, mas ele ficava todo atarefado com o conde e tbm a viagem Rio-Petrópolis era muito cara. – Então ele quase não ia...
Aí minha avó, bem pequenininha odiava os domingos....Ela ficava tão triste, mas tão triste, que todo domingo ela acordava e ia direto pra um poço seco que tinha lá no colégio e que não era muito fundo. Ela entrava lá e ficava o dia todo, enquanto não fossem embora todas as visitas, ela não saía do poço. Tinha 3 anos e passava o dia inteiro lá dentro, sem comer, fazia xixi e as  vezes atpe cocô nas calças, mas não saía....
Ela entrava num poço seco pra conseguir respirar aos Domingos.


Minha mãe tbm tinha uma estratégia. Quando ela fez dois anos, minha tia mais nova nasceu e ela era meio doentinha... Nos primeiros anos de vida da minha tia, a minha avó ficava muito em hospital e médico....e  minha mãe se sentia abandonada.... Aí, sempre que minha avó precisava dormir fora com a minha tia pq ela tava internada ou coisa assim...minha mãe ficava na parte externa da casa, arrastando a cara no muro.. E adormecia assim, lá fora, com a cara toda esfolada de muro. Era assim que ela se ninava, materializando aquela muralhona da distância....

Eu ficava muito querendo fugir de casa – ás vezes rolavam uns abusos, umas violências – e o peso daquela realidade era tanto tanto que eu queria fugir. Acho que eu queria entrar num livro, mas tanto, que eu queria que o livro entrasse em mim – aí me ninava com os livros no peito. É confortável, é estratégico....

O que você faz com a sua lama?


Pai, eu to feliz com a sua ausência...

Mas ta tudo bem. Já ta tudo bem... E vai ficar tudo bem...


Cada pedacinho de vc

Eu preciso dizer que te amo...

Sabe, eu te amo muito. Muito mesmo. Eu amo vc inteirx. Amo cada pedacinho de vc...

Essa boca assim... essa pintinha bem aqui.... essa cor, essa roupa q vc ta usando... eu amo o som da sua voz, o formato do seu rosto, esse som q vc acabou de emitir, o jeito como vc me deu oi, a maneira como vc me abraçou.... Tudo em você. Amo muito cada coisinha.

Eu amo as suas céulas. Todas elas. As que tão morrendo e as que ainda vão nascer...Esse movimento de transformação. Vc respirando....

Eu amo.

Mas to te dizendo isso pq acho q vc precisa saber q eu sou só um canalzinho do Universo cheio de amor por você. Só um entre tantos... entre Tanta gente que te ama, eu sou só mais uma .....
Vc é imensamente rodeadx de amor... cercadx, abraçadx, embaladx por esse Amor Maior, Universal...

E isso só acontece quando a gente dá amor tbm....

Fica sabendo dsso.

Vc é uma pessoa imensamente amada...

Eu te amo demais!

Foto interior

Se eu tirasse uma foto de dentro de vc agora, o que eu ia ver?

qual é a 
cor?
se foto tivesse cheiro, qual seria?

tem gosto tbm?

Qual a forma?
Tem movimento?



Vc gosta dessa foto?
1 Massa, eu tbm. Lindona!
2 - Não. O que precisa mudar pra começar a gostar?

>>> Se for alguma coisa subjetiva, escrever num papel, grudar no chocolate meio amargo e pedir rpa pessoa comer.

>>> Se for objetivo, fazer

área de circulação

derivante da deriva

Então, posso te pedir pra levantar/w
Não pode ficar parado aqui....
aqui é área de circulação.

Aí vai que vocêtá aí sentado, mas aí vem outra pessoa querendo sentar e não pode pq vc já tá.... meio injusto neh...
Então é melhor circular.... deixar a área livre pra circulação

corpo de presença

Por favor, vc pode assinar no meu corpo de presença?
Onde vc quiser...

É só um baseado

[Ta tocando duas de cinco e convoque seu buda, do Criolo - eu to enrolando kumbayá]

Gente, alguém tem uma salvinha pra completar esse beck?
Eu tô até com dó de fumar pq eh meu último baseado... O Pelézinho, que entregava pra mim lá na faculdade, foi preso. e agora to sem fornecedor.

Mas tbm, Pelézinho era foda.... chegava lá na faculdade com a mochila cheia de maconha pra vender - dava muita pala... Ele jogava bola com uns meninos da comunicação, dizia até q qria fazer faculdade lá na ECo, mas acabaou rodando..... - tbm, com aquela uantidade imensa de maconha.... deu mole!

alguém aí tem um beck? bora fumar o último beck do meu trafica predileto?

Cheiro do Ralo

[Olhando pro teto do banheiro - deixando as imagens chegarem]

Na minha antiga casa não tinha mofo, nem infiltração, nem porta quebrada, nem luz que não acendia, nem janela que não fechava. Não tinha chuveiro sem box, nem armário rangendo, nem papel higiênico faltando.
Quando vc chegava em casa, tinha um cheiro de limpeza - de óleo de peroba, de comida no fogão, e de verde. Mas eu não sentia pq a gente não sente o cheiro da própria casa - a gente sente o cheiro da casa dos outros, mas o da nossa própria casa a gente não sente, neh?

Na casa q eu tô hoje tem. Tem mofo, infiltração, porta que não abre, janela que não fecha, banheiro sem box, papel faltando, geladeira sem comida, cadeira sem encosto, mesa sem pé.... e toda vez q eu entro em casa, eu sinto um cheiro muito forte de esgoto vindo do ralo do banheiro. Eu acho q lá não é minha casa - eu moro lá mas não é minha. Eu sei pq euando eu entro eu sinto o cheiro e a gente não sente o cheiro da própria casa. A gente sente o cheiro da casa dos outros, mas o da nossa própria casa não.

Agora, na minha próxima casa. Na casa que eu vou morar e que é minha tá tudo inteiro. No banheiro tem box, porta funcionando, água quente. Tem comida na dispensa, na geladeira, na mesa... Tem um jardim bonitão. Tem varanda, janela grande, poltrona confortável, vitrola, lampião.  Minha casa eh muito maneira. Quando vc chega, vc sente o cheiro de limpeza, de rosa branca, de planta verde, de comida no fogão, de perfume de gente limpinha....Vc sente. Mas eu não. Pq a gente não sente o cheiro da própria casa. Vc sente o cheiro da minha, mas da sua não... E eu sinto o cheiro da sua, mas da minha mesmo não sinto não.

Vc sabe o cheiro da sua casa? Se sabe, talvez ela não seja sua... talvez vc soh more lá...

Fazendo Sala

Eu tô numa viagem muito grande aqui...

Vou tentar te contar pra você ver onde eu cheguei, pode ser?

Eu tava olhando essa escultura, que eu apelidei de Mestre André e sempre que olho pra ele eu penso que é um capoeirista - mas aí comecei a achar q eh pq tô com muita saudade de fazer capoeira e acabei direcionando meu olahr. Então, comecei a fazer um exercício de enxergar outra coisa e pensei que ele tbm pode ser um mestre sala dependendo da posição. Não aprece um pouquinho que ele ta cortejando uma porta-bandeira?
E aí entrei nessa pira de mestre sala e me perguntei o pq desse nome. Mestre Sala, neh? Qual é a função de um mestre Sala? Cheguei a conclusão que é fazer Sala pra porta-bandeira. Mas o que é fazer Sala, neh?
Eh fazer a pessoa se sentir a vontade? E esse pensamento me levou pra uma festa que a gente viveu no trem vindo da central pra Santa Cruz. A gente levou um bolo, eu pedi pra um vendedor de brinquedos perguntaar no microfone se tinha algum aniversariante no trem e a menina que tava bem do nosso lado falou que era aniversário dela. Foi surreal. Jessica o nome delea, tava fazendo 32 anos. A gente levou o bolo, ela fez o aniversário. A gente sentou bem do ladinho Dessas coisas que só acontecem uma vez na vida neh... Enfim, mas aí pensei nisso, pq além de fazer uma festa no trem, a gente super criou um ambiente de sala. Ficamos todos juntos, os atores, a aniversariante, o resto dos passageiros... A gente ficou junto, conversando, comemorando, se conhecendo. A gente fez festa, mas acabou fazendo sala tbm. saca?

E eu tenho uma pira com ter mestres. Eu admiro tanto alguns mestres na minha vida, que quero me tornar mestre tbm. Quero ser mestre Sala, mas não so samba, pq eu sou paulista e não sei muito sambar... Quero ser mestre da Sala de Casa. Me ajuda?

Tava bem nesse momento da minha viagem... Pensando o que é preciso pra fazer Sala pra alguém...q q precisa ter numa sala? Q q precisa pra se estar bem numa sala? É diferente pra cada um neh....
Como é sua sala ideal? Me ajuda a fazer Sala pra vc?

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Qual seu nome todo?

Minha mãe sempre me chamava de FLORISBELA. E sempre que ela me chamava assim uma chama brilhava em meu peito. Eu dava um sorriso de lado assim, e ia até ela.

Mas meu nome mesmo é ISABEL CRISTINNE FIQUEIRA SANCHE CARVALHO

Esse é o mesmo nome da minha vó Bel.

É CRISTINNE com dois NN, e é nnE.

Dois nomes de Arvore, FIGUEIRA e CARVALHO

ISABEL CRISTINE FIGUEIRA SANCHE CARVALHO

Esse é o meu nome.

Eu ia me chamar Lucas, porque todo mundo achava que eu seria um menino, mas quando nasci, e acho que por não ter nome colocaram ISABEL, que é o nome da vó Bel.

Vó Bel tinha os cabelo cumpridos e branquinhos. Eu sempre gostei de ter o mesmo nome que a minha vó Bel.

Sabe o que eu mais gosto no meu nome todo? É esse dois nomes de arvore.

FIGUEIRA E CARVALHO.

E cara, árvores são mágicas! Eu acredito que eu carregar esses nomes, de alguma forma elas estão em mim.... Estranho, né?! EU SOU UMA ARVORE BONITA! Eu balanço, eu balanço, eu balanço. A FIGUEIRA é resistente a tempestade. Gosto de pensar que quanto mais o tempo passar, mais grossa minha casaca vai ficar. Me alimentando de raios e trovões. 

o trem das histórias

A palavra não dá conta do sentimento.

Vazio – linguagem Falha

Comunicação –

 

                                                               Gestos (?)

                                                             -      -        -

                                                           -        -           -

                                                     Ações      -        Afeto

                                                                     -

                                                           Demonstração 

 

 

~ FALA ~

O TEMPO

Vulgo – conchinhas

- Começa na cadeira em frente a escada

- Produção sonora com as conchas.

- Canção para ninar = Passar

- Lentamente colocar as conchas


O desconforto

Aqui estou, não consigo identificar o porque desse sentimento.

De onde vem? O que o ativa?

Porque ele me atinge?

É preciso controlar e correr contra

o Tempo.... JÁ

Por o corpo

Mas o corpo não se movimenta.


Franqueza

A introspecção. De onde vem?

Não é necessária.

Esta tudo bem. Estou onde eu deveria estar.

Firme. Confiante. Feliz e com Amor.

E tem gente.

                Rick. Mah, Lu. Mila. Clari. Bil.

                    Criz. Morceguinho.

                             Eu

 

       Amor.

 

Ela não responde!! Não Fala!

                         Tudo

                           Bem.

 

Seguir o coração e faz tudo  o que for bom.

               Rasão e Emoção

                                                              FRANQUEZA


Isabel Sanche :D

Casa de Ar

- Não é Terapia

- Não é Festa

- Não é um Encontro Familiar

 É Desconforto? Onde esta o conforto? Qual é o estado da Casa?

                         Eu – Casa

Casa Vazia abre os meus poros. Eu fico tipo queijo suíço, cheia de buraquinhos. A principio não tem muito o que fazer; eu recebo o conteúdo gasoso; e fico cheia de vontade de espirrar.

 Sanche :D

Casa do Amor

Primeira noite na casa. Irônico ser "Amor". Nesse momento uma das coisas que estão tortas, é o Amor. Aquele que a gente geralmente sente por alguém.

Eu to bem.

E to querendo que seja mais intenso do que pareça.

To de boa.

É de fato uma casa de Amor.

É espaçosa. Tem um quintalzão.

Uma escadinha colonial.

Uma porta arco.

Uma sala azul! Cheia de brinquedos

Com cinema e teatro, tem lugar pra brincar. Dançar. Artesanato. Vida

Tem árvores em volta.

E gente.

Muita gente.

Amor.

                                                     Mas como tudo ela

                                                    pode ser desprotegida

                                                     Temos que Proteger.

É preciso proteger o Amor.

Isabel Sanche :D

Casa Cheia

A casa é vazia mas ela é Cheia de Amor.

Hoje o ensaio foi na casa da Cris, Lu e Camilindya.

Um Lugar especial, cheio de gente que amo.

É branca e tem árvores perto. Dá pra ver os Pássaros e uma pedreira com árvore. 

É perto do chão

Isabel Sanche :D

O trem Partiu

Eu estou muito atrasada.

Estou atrasada para um aniversário

em Santa Cruz.

Tem uns amigos me esperando lá.

Me ajuda? Eu to atrasada!

 

O trem já partiu.

 

Eu entrei e me acomodei, bem na minha frente tenha uma Mulher muito linda. Ela usava um sai rodada preta e uma frente única, que deixava o decote das costas todos a mostra. E ela estava muito triste. Em determinado momento da viajem a mulher se levanto e ficou de frente pra porta, olhando para fora do trem pela janela. Nesse momento eu percebi que a mulher estava chorando.

Depois de 20min nessa mesma posição e chorando, ela secou as lágrimas e sentou novamente.

Na frente da mulher estava uma menininha, que sentada no colo da mãe, não parava de comer M&M. Ela só desviava o olhar da mulher quando era pra recarregar mais as mão com M&M.

Em algum momento a mulher que até então evitava o olhar sincero sem excitação da menina, olhou ela de volta e ficaram... paradas... se olhando....

A voz do trem disse que a próxima estação era PACIÊNCIA, a mulher sorriu.

A mulher se levantou, o trem parou e ela saiu....

 Sanche :D

segunda-feira, 20 de junho de 2016

~ chá de casa nova

Em agosto, C A S A  V A Z I A vai abrir as portas na Casa da Rua do Amor, em Santa Cruz. Serão duas edições de 24 horas e uma oficina sobre o nosso processo de trabalho.

Até lá, precisamos montar a nossa casa, que vai te receber com todo o carinho. Então perguntamos: você pode ajudar?

Lembra daquela caixa cheia de coisa que você não usa e tá guardada lá no fundo da despensa?

De repente você pode ajudar a construir essa nossa casa com um pouquinho de você. Dá uma olhada na nossa lista! 

Aceitamos DOAÇÕES e EMPRÉSTIMOS. Manda uma mensagem pra gente pela página facebook.com/projetocasavazia ou liga pra gente no número (21) 969 375 142.



~ lista do chá de casa nova ~


QUARTO e SALA

abajur
almofadas
banco
banquinho
colchas
colchão de casal
colchão de solteiro
cortina
fronhas
lençóis (casal e solteiro)
luminária
mesa de cabeceira
mesa pequena
mesa grande
porta-retrato
travesseiros


COZINHA

abridor de lata 
açucareiro 
assadeira ou tabuleiro
bacias
batedor de mão
cesta de frutas
chaleira
coador de pano
colher de pau
colheres
concha
copos
descanso de copos
escumadeira
facas
filtro de barro
fogão
frigideira
garfos
garrafa térmica
garrafas de água
geladeira
jarra de água
jogo americano
leiteira
liquidificador
panelas
panos de prato
peneira
pratos
ralador
ralo de pia
saleiro
suporte para filtro
tábua de carne
tapete de bem vindo
tigelas de sopa
toalha de mesa
xícaras e canecas


BANHEIRO

cortina para box
lixeira
tapete de banheiro
toalhas


LIMPEZA

balde
cabides
pá de lixo
pano de chão
pregadores
vassoura


EXTRAS

caixa de som
cordas e linhas
espelhos (inteiros ou quebrados)
extensão
lâmpadas
latas de alumínio vazias
molduras velhas
mp3
potes de vidro no geral
pisca-pisca
som
velas
ventilador de chão

domingo, 12 de junho de 2016

provocação 2

enquanto todxs dançam, sirvo-lhes vendas numa bandeja de prata.

bandeja ou bandeija? mantega ou manteiga?

está servidx, senhorx?

Você está tão linda linda hoje.

Parece até que está de férias.
ou
Está parecendo uma pintura.

Separando-grãofeijãomilhoenfeitecoisa

– Você já separou?

LÊNY

a minha mãe me teve com 45 anos.
se hoje já é gravidez de risco, imagina naquela época.
mas meus pais queriam muito me ter.
os médicos todos desaconselhavam mas eles encontraram um que achou que dava, que não tinha problema.
ele tinha menos de trinta, tinha acabado de terminar a residência. deu certo, eu tô aqui e ele, o médico, e a mulher viraram meus padrinhos, que eu não vejo nunca.

hoje a minha mãe é uma senhora.
ela anda com muita dificuldade mas ela não aceita de jeito nenhum ir pra cadeira de rodas.
ela tem medo que aconteça o que aconteceu com a minha avó, que o médico disse que quando ela fosse pra cadeira de rodas ela não ia mais voltar a andar - e ela não voltou mesmo.

então a mamãe não deixa a gente ajudar em nada. a gente tenta mas ela não deixa.

outro dia eu tava com ela na casa da minha irmã, ela tinha feito transfusão de sangue então tava se sentindo ótima, mas o médico tinha avisado pra não abusar.
ela foi tomar banho e eu me dei conta de que na casa da minha irmã não tem aquelas barras de apoiar, de segurança, e banheiro é um lugar periogoso, né.
aí eu fui correndo, abri a porta do banheiro e perguntei se ela não queria uma ajuda, que eu ajudasse.
aí ela gritou: a porta tá fechada porque eu tô tomando banho, você fecha essa porta!
e eu fechei.

outro dia eu contei essa história pra lêny, que eu conheci no trem.
ela me disse que todos os filhos tinham que ser que nem eu.
a lêny trabalha numa clínica de idosos na tijuca.
ela cuida do seu raimundo, que já foi um cara muito rico mas que perdeu a lucidez e o dinheiro e os filhos colocaram ele lá e quase nunca visitam, quase nunca aparecem.

às vezes ele acorda no meio da madrugada, acorda a lêni e diz:
- eu preciso ir pro escritório
- pra que, seu raimundo?
- eu preciso despachar, prepara o carro pra mim que eu preciso ir despachar.
ela prepara a cadeira de rodas, do lado da cama, e diz:
- então vamo que o carro tá pronto.
ela coloca ele na cadeira de rodas, eles saem do quarto, dão uma volta no andar e quando eles chegam de novo no corredor do quardo dele, ela pergunta pra ele:
- tá reconhecendo aqui?
- é a rua do meu escritório. ali, no fim da rua.
eles entram no quarto, ele pede pra ela colocar ele na mesa, ela coloca ele na cama e nessa hora ele já tá com sono e dorme.

a lenu entra no trabalho segunda de manhã e sai sábado de manhã.
ela trabalha cento e vinte horas seguidas por semana e ganha mil e seiscentos reais.
ela é sozinha com três filhas e por isso tem medo de reclamar e ser mandada embora.

apesar de tudo isso, ela sorriu muito.
conhecer a lêni foi muito contraditório:
eusentiesperançanomundoaomesmotempoemquesentiqueomundotáperdido.

provocação

fogueira roxa. escuro. vai colocando uma música. depois fica esquentando as palmas das mãos no fogo da fogueira.

cê dormiu bem essa noite? que que cê fez de manhã?

coloca a música. ouvem.

acompanha o pássaro
mas não atrapalha o voo
não tente olhar com as mãos
estar perto requer outros dons

acompanha o pássaro
mas não atrapalha o voo
não tente olhar com as mãos
estar perto requer outros dons

de todas as coisas
eu espero que você permaneça

de todas as coisas
eu espero que você permaneça

em mim

passarinho quis vioar
e voou
passarinho quis voar
e realmente voou

eu não atrapalho não
sou dessas que têm binóculos
eu não atrapalho nunca
eu tenho um coração de espuma

eu tenho uma amiga que. e é difícil falar. é como se tivesse uma névoa na cabeça. é como se. eu acordo mas. e é difícil. eu não consigo explicar. eu acho que. quando eu era pequeno a minha mãe me dava uns beliscões quando eu chorava. por isso que eu aprendi a parar de chorar. aí eu finjo que eu tô rindo. e ela tem um namorado que. às vezes tem medo de. mas ao mesmo tempo. também tem que pensar que.

a chris que mostrou essa canção linda. talvez cantem, talvez dancem. talvez sorriam. ou brinquem. ou nada. nada mesmo.


Quando o sol,
se derramar em toda a sua essência,
desafiando o poder da ciência,
pra combater o mal.

E o mar,
com suas águas bravias,
levar consigo o pó dos nosso dias,
vai ser um bom sinal.

Os palácios vão desabar
sob a força de um temporal,
e os e os ventos vão sufocar o barulho infernal.

Os homens vão se revelar
dessa farça descomunal,
vai voltar tudo ao seu lugar, afinal.

Vai resplandecer, uma chuva de prata,
do céu vai descer, lalaia.
O esplendor da mata vai renascer,
e o ar de novo, vai ser natural.

Vai florir,
cada grande cidade, o mato vai cobrir
ô ô
das ruinas um novo povo vai surgir,
e vai cantar afinal.

As pragas e as ervas daninhas,
As armas e os homens de mal,
vão desaparecer nas cinzas de um carnaval.

sábado, 30 de abril de 2016

INCORPORAR PALAVRAS

uma grande folha de papel + carvão

Escrevo: 

'INCORPORAR PALAVRAS

A palavra é o começo de tudo. Com a palavra o universo começou. Com a palavra nós começamos. Somos poemas encarnados. Somos as estórias que moram em nós.

Vou escrever aqui algumas coisas que escutei ao longo dessas 24 horas e que quero que fiquem. Fazendo parte de mim. Vocês em mim. Eu em vocês. Nós.'

(...)

Coloco O alarme para tocar perto do fim. Me visto de palavras. Espero em silêncio. Só, acompanhada.




quarta-feira, 27 de abril de 2016

sobre uma despedida

só queria escrever que aqui escrevi tanta coisa tanto que não foi falado o que queria compartilhado mas não dá nem sei só queria que você imaginasse tudo que pode caber mais fundo no humano que estava aqui e não esta mais porque a gente apaga.


domingo, 10 de abril de 2016

MINHA MÃE

NÃO SABE USAR COMPUTADOR.
MAS JUNTOU CORAGEM, RS.
FEZ CURSO NO SENAC.
SEXTA-FEIRA.
O PROFESSOR QUIS AJUDAR.
DISSE PRA NÃO FICAR NERVOSA.
PRECISAVA RELAXAR.
TOMAR UMA CERVEJINHA.
TALVEZ AULA PARTICULAR.
NO FIM DE SEMANA.
MÃO NA PERNA.
ELA LEVANTA. SAI.

minha mãe tem 60 anos.

domingo, 3 de abril de 2016

Provocação


 Coloco "Cidadão Instigado" pra tocar. Vou arrumar espelhos. Falo para as pessoas que estiverem na sala:

 

-Festa de família. Natal, talvez. De noite.

 

(... )

 

-Não! Sou eu que fugi da família, fugi de casa, fugi de todo mundo procurando todo mundo. Sou eu tentado encontrar na solidão a mim e ao outro. Quem? Quando? Para. Vive, vive apenas. Rilke bem que me avisou que era pra acostumar-se com a presença das perguntas, em vez de angustiar-se com a ausência das respostas. Era, disse ele, para admirar a beleza do não- saber, sem muito mais. Já não sei se foi exatamente isso o que ele disse, mas pelo menos foi assim que tudo aquilo se imprimiu em mim. Chega. A festa de família voltou. Tomo um gole de vinho, meio atordoada. Tudo passou muito rápido e agora me vejo outra vez aqui, sem saber exatamente por que. Chega.

 

Levanto e vou até o banheiro. Descarrego.

 



descontrole, potencial transbordante

[enquanto bebe água sem parar, de cócoras]


Falou a primeira palavra aos 6 meses: nã... quando queria dizer não.
O primeiro passinho veio dois meses depois. Quando deu o primeiro nunca mais engatinhou.
Tinha 4 anos quando leu "Butterfly" na capa de um livrinho.
Aos 5 lia e escrevia em português e inglês
"Criança Prodígio! - Muito Inteligente. Essa aí vai longe... Não sei nem a quem puxou"
Foi oradora da turma do prézinho, tinha 5 anos.
"Tão fofa! é a mais nova da turma e lê melhor que todos os outros"
Ganhou bolsa pra estudar até o último ano do colégio
E se formou  no ensino-médio com dezesseis anos recém completos
"Que potencial, com toda essa inteligência pode fazer o que quiser!"
Entrou de primeira na universidade pública. Com dezenove estava formada.
Entrou de primeira na segunda universidade pública. E Federal.
"Muito Inteligente. Quanto potencial!"
Nunca fez xixi na cama. Na primeira manhã depois de dormir sem fralda, acordou dizendo "sisi, sisi" e esperou até ser levada ao banheiro pra urinar. Nunca vi neném mais inteligente.
"Esse vai longe!! Tem tanto potencial"
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...
Tanto potencial...

[faz xixi e deixa sujo. alguém limpa]

quarta-feira, 30 de março de 2016

Apresentação Magnética da Chris

 

Minha família é de três, minha mãe meu pai e eu. Não tenho muito pra onde ir, então acho que vou contar o começo. A história de como meus pais se conheceram é legal. Meu pai bateu, deu uma batidinha, no carro da minha mãe na véspera do ano novo, 31 de Dezembro. Minha mãe, ariana que é, desceu puta esbravejando. Meu pai gamou nela a primeira vista e resolveu segui-la até em casa. Ficou na porta dela até ela sair. Quando ela finalmente apareceu, na cara de pau, perguntou o que ela ia fazer no Ano Novo. Ela disse que ia na praia da Bica, ali na Ilha do Governador. Ele perguntou se podia ir, ela disse que sim. Depois da virada do ano, quando andavam na praia, deram de cara com uma cigana, que pediu pra ler a mão deles. Meu pai, cético que é, não acreditava nem um pouco naquilo tudo, mas acabou deixando. A cigana disse que eles se casariam e teriam uma filha. Quando meu pai conta esse história gosto da cara que ele faz, um sorriso meio torto, maroto, olhando de lado, como percebendo ali o mistério...



terça-feira, 22 de março de 2016

Começa por saber que desde o início não sabemos de nada

-Olá, tudo bom? Qual seu nome?
- "..."
- "..." você já parou para pensar que você é uma "..." diferente para cada pessoa que já conheceu na vida?
Posso te chamar agora de minha, minha não, muito possessivo, vou te chamar de 109. "...", pode ser?
O meu nome é Chris. Qual número de Chris você gostaria de me dar?
(...)
-Maravilha! Escreve aqui pra eu lembrar? Eu quero saber exatamente quantas de mim existem por ai...obrigada!
ou
-Uma pessoa já está com essa Chris...escolhe outra? 



segunda-feira, 7 de março de 2016

provok ação

Oi, seja bem-vindo!!

Qual seu nome?
-Fulano

Oi fulano, posso escrever CASAVAZIA aqui na sua mão pra você poder circular, sair e entrar à vontade?

E, por favor, você pode escrever seu nome em algum lugar aqui do meu corpo? É mais pra gente saber quantas pessoas tão frequentando a casa na edição de hoje.
Qualquer lugar!!

[tira a roupa e, vulnerável, se entrega pra recebr a escrita do Outro. Recebe]

provocação Ilê Ayê - Que bloco é esse?

Texto Anexo da moça Sabrina sobre o tráfico de drogas e a exploração da miséria de negros.
Eu vou contar a vcs uma história:
Eu morava perto do morro do cantagalo, aqui no rio, perto da praia e a praia era aquele lugar “democratico” onde “td mundo era igual”. A vdd é que brancos ali tentavam fazer experiencias antropologicas escrotas com favelados mas era bem sutil mesmo. Eu me incluo nessa.
Eu fiquei amigona de um mlq cujo apelido se chamava tote (qm eh da zs do rio deve conhece-lo) Surfista sinistro, me ensinou à surfar direito, me ajudava em varios aspectos da minha vida e um detalhe q nao importa aqui, foi um dos poucos caras q nao tentou me agarrar. Estudava em facul publica q dpa teve q largar. Tinha varios patrocinadores de surf querendo patrocina-lo. O mlq era FODA. a mae dele era aidetica e alcoolotra e ele q cuidava da casa toda. Dos irmaos, dinheiro etc. Ele era negro e nao aquele negro que a sociedade erotiza e contrata pra fazer cota nas lojas e evitar uma má visibilidade e processo. Ele era aquele cara q pessoas atravessavam a rua ao ver, pq ele “tjnha cara de bandido” como diziam. Ele se meteu com trafico e geralmente vendia pro arpoador inteiro. Se meteu pq surf ia demorar pra ganhar dinheiro e ele nao podia esperar. Faltava comida, remedio etc e sinceramente? Nao ia ser facil achar um emprego. Ele queria ser surfista mas qs viu o dinheiro entrar, foi desistindo. Eu era bem amiga dele e fumavamos juntos. Eu sequer subia o morro.
Um dia ele morreu. Assassinado num confronto.
Eu to viva. Todos os clientes playboys dele estao vivos e trabalhando, mt bem obrigada.
Fico pensando… se a gente n tivesse enchido o rabo dele de grana de uma vez pra sustentar nossas babaquices, talvez fosse ele no lugar do gabriel medina hoje (e eu pego obda desde q nasci, eu SEI qm era bom e ele iria mt longe. Essa historia é mt triste.
Fim da historia

fonte:

https://amargemdofeminismo.wordpress.com/2014/11/14/o-trafico-de-drogas-arruina-a-vida-das-perifericas-e-nao-ignore-que-voce-financia-isso/


enquanto dichava, enrola e acende um baseado - conta a história e ouve "convoque seu Buda" - do Criolo

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Querida Yulong

Você vai bem? Desculpe por não ter escrito antes. Não há motivo para isso, é só que tenho muito a dizer e não sei por onde começar. Por favor me desculpe. 
Já é tarde demais para lhe implorar que perdoe o meu erro terrível e irreversível, mas eu ainda quero lhe dizer: querida Yulong, eu sinto muito!
Você me fez duas perguntas na sua carta: "por que você não quer ver o seu pai" e "o que a faz pensar em desenhar uma mosca e por que foi que a fez tão bonita".
Querida Yulong, essas duas perguntas são muito, muito dolorosas para mim, mas vou tentar responder.
Qual é a menina que não ama seu pai? Um pai é uma grande árvore abrigando a família, as vigas que sustentam uma casa, o guardião de sua mulher e de seus filhos. Mas não amo meu pai - eu o odeio.
Na véspera do Ano-Novo do ano em que fiz onze anos, levante bem cedo e, inexplicavelmente, estava sangrando. Fiquei tão assustada que me pus a chorar. A minha mãe, que veio ter comigo quando me ouviu, disse: "Hougxue, você cresceu". Ninguém, nem mesmo ele, tinha me falado sobre coisas de mulher antes. Naquele dia, mamãe me deu uns conselhos básicos sobre como lidar com o meu sangramento, mas não explicou mais nada. Fiquei entusiasmada: tinha me tornado mulher! Saí correndo pelo quintal, pulando e dançando durante três horas. Até esqueci do almoço.
Um dia, em fevereiro, estava nevando muito e mamãe tinha saído para visiar uma vizinha. Meu pai tinha vindo da base militar, para uma das suas visitas. Ele me disse: "Sua mãe diz que você cresceu. Vamos, tire a roupa para o papai ver se é verdade".
Eu não sabia o que ele queria ver, e estava muito frio - eu não queria tirar a roupa.
"Rápido! O papai ajuda!", disse ele, tirando-me a roupa com destreza. Ele, que normalmente tinha os movimentos lentos, estava totalmente diferente. Começou a passar as mãos pelo meu corpo inteiro, perguntando o tempo todo: "Esses mamilozinhos já incharam? É daqui que o sangue vem? Esses lábios querem beijar o papai? é gostoso quando o papai passa a mão aqui, assim?".
Eu me sentia morta de vergonha. Pelo que me lembrava, nunca tinha estado nua na frente de ninguém, exceto nos banhos públicos separados. Meu pai notou que eu estava tremendo. Disse-me que não tivesse medo e me preveniu para não contar nada à mamãe. "Sua mãe jamais gostou de você", disse. "Se ela descobrir que eu amo você tanto assim, vai querer saber ainda menos de você."
Essa foi a minha primeira "experiência de mulher". Depois, tive uma náusea muito forte.
A partir de então, bastava que minha mãe não estivesse na sala - ainda que estivesse só na cozinha, cozinhando, ou no banheiro - para que meu pai me prensasse atrás da porta e me alisasse inteira. Fui ficando com um medo cada vez maior desse "amor".
Mais tarde ele foi transferido para outra base militar. Minha mãe não podia ir junto por causa do emprego dela. E disse que tinha se esgotado criando a mim e ao meu irmão e que queria que meu pai cumprisse suas responsabilidade por um tempo. Assim, levou-nos para morar com ele.
Eu tinha caído na toca do lobo.
A partir do dia em que minha mãe foi embora, toda tarde meu pai se enfiava na minha cama enquanto eu descansava. Ocupávamos um aposento num dormitório coletivo e ele usava a desculpa de que meu irmãozinho não gostava de cochilar à tarde para trancar a porta e deixá-lo do lado de fora.
Nos primeiros dias, só passava as mãos pelo meu corpo. Depois começou a forçar a língua dentro da minha boca. Aí começou a me cutucar com a coisa dura na parte inferior do seu corpo. Vinha para a minha cama, já sem ligar se era dia ou noite. Usava as mãos para me abrir as pernas e me molestar. Até enfiava os dedos dentro de mim. 
Naquela altura tinha parado de fingir que era "amor paterno". Ameaçava-me, dizendo que, se eu contasse para alguém, seria criticada em público e teria que desfilar pelas ruas com palha na cabeça, porque eu já era o que chamavam de "um sapato usado".
Meu corpo, que ganhava formas rapidamente, o deixava cada vez mais excitado, enquanto eu me sentia mais e mais aterrorizada. Pus um cadeado na porta do quarto, mas ele não se importava de acordar todos os vizinhos e batia até que eu abrisse. Às vezes enganava as outras pessoas no dormitório e elas o ajudavam a forçar a minha porta, ou então dizia que precisava entrar pela janela para pegar alguma coisa porque eu tinha o sono muito pesado. Outras vezes era meu irmão quem o ajudava, sem entender o que fazia.Assim, trancasse eu a porta ou não, ele entrava no meu quarto, em plena vista de todos.
Quando ouvia as batidas, eu com frequência ficava paralisada de medo e me enroscava tremendo embaixo do acolchoado. Os vizinhos me diziam: "Você estava dormindo como uma morta. O coitado do seu pai teve que entrar pela janela para pegar as coisas dele!".
Eu não ousava dormir no meu quarto, não ousava ficar sozinha de maneira alguma. Meu pai percebeu que eu estava sempre encontrando pretextos para sair e criou a regra de que eu tinha que estar de volta na hora do almoço, todo dia. Mas era comum eu adormecer antes mesmo de terminar de comer: ele estava pondo remédio para dormir na minha comida. Eu não tinha como me proteger.
Muitas vezes pensei em me matar, mas não tive coragem de abandonar meu irmãozinho, que não teria ninguém a quem se voltar. Comecei a ficar cada vez mais magra, até que adoeci gravemente.
Na primeira vez em que fui internada no hospital militar, a enfermeira  de plantão disse ao médico, dr. Zhong, que eu tinha o sono muito perturbado. Acordava assustada ao mais leve ruído O dr Zhong, que não conhecia os fatos, disse que era por causa da minha febre alta.
Mas, mesmo enquanto eu estava assim doente, meu pai vinha ao hospital e se aproveitava de mim, que estava com um tubo na veia e sem poder me mexer. uma vez, quando o vi entrando no meu quarto, comecei a gritar descontroladamente, mas meu pai simplesmente disse à enfermeira - que viera correndo - que eu tinha muito mau gênio. Naquela primeira vez só passei duas semanas no hospital. Quando voltei para casa, encontrei meu irmão com um machucado na cabeça e manchas de sangue no casaco. Contou que o papai estivera de péssimo humor enquanto estive no hospital e o surrava ao menos pretexto. Naquele dia o animal doentio que era o meu pai apertou-se enlouquecido contra o meu corpo, ainda desesperadamente frágil e fraco, sussurrando que tinha morrido de saudade de mim!
Não pude conter o choro. Aquele era o meu pai? Tinha tido filhos só para satisfazer seus desejos animalescos? Dera-me a vida para quê?
Minha experiência no hospital tinha me mostrado um jeito de continuar vivendo. Injeções, comprimidos e exames de sangue eram preferíveis a viver com o meu pai. Assim, comecei a me ferir repetidamente. No inverno, encharcava-me de água fria e saía para o gelo e a neve. No outono, comia comida estragada. Uma vez, em desespero, estendi o braço embaixo de um pedaço de ferro que estava caindo, para cortar a mão esquerda na altura do pulso. (Não fosse por um pedaço de madeira macia embaixo, eu certamente teria perdido a mão.) Nessa ocasião, ganhei sessenta noites inteiras de segurança. Entre ferimentos que eu mesma me causava e os remédios, fui ficando aflitivamente magra.
Mais de dois anos mais tarde, minha mãe conseguiu uma transferência no emprego e veio morar conosco. A sua chegada não afetou o desejo obsceno que meu sentia por mim. Disse que o corpo dela estava velho e murcho e que eu era a concubina dele. Minha mãe não parecia notar a situação, até que um dia, no final de fevereiro, quando meu pai estava me batendo porque eu não tinha lhe levado alguma coisa que ele queria, gritei com ele pela primeira vez na vida, dividida entre mágoa e raiva: "O que você é? Bate em todo mundo quando tem vontade, molesta qualquer um quando quer!"
Minha mãe, que assistia à cena, perguntou o que eu queria dizer com aquilo. Assim que abri a boca, meu pai, encarando-me furioso, disse: "Não diga absurdos!".
Eu não aguentava mais e contei a verdade à minha mãe. Vi que ela ficou terrivelmente perturbada. Mas, poucas horas depois, a minha "sensata" mãe me disse: "Pela segurança da família toda, você vai ter que suportar isso. Caso contrário, o que é que nós todos vamos fazer?".
Minhas esperanças foram completamente destruídas. Minha própria mãe me dizia que tolerasse os abusos de meu pai, marido dela. Onde estava a justiça disso?
Naquela noite minha temperatura chegou a quarenta graus. Fui novamente trazida para o hospital, onde continua até agora. Desta vez não tive que fazer nada para provocar a doença. Simplesmente desmaiei, porque tinha tido um colapso cardíaco. Não tenho intenção alguma de voltar para aquele suposto lar.
Querida Yulong, é por isso que não quero ver meu pai. Que espécie de pai e ele? Não digo nada por causa do meu irmãzinho e da minha mãe (ainda que ela não goste de mim). Sem mim, eles ainda são uma família como antes.
Por que foi que desenhei uma mosca e por que foi que a fiz tão bonita?
Porque anseio por uma mãe e um pai de verdade; uma família de verdade, onde eu possa se um criança e chorar nos braços dos meus pais; onde eu possa dormir em segurança na minha cama, em casa; onde mãos carinhosas me afaguem a cabeça para me consolar depois de um pesadelo. Desde a infância mais tenra, nunca tive esse amor. Esperei e ansiei por ele, mas nunca tive, e agora jamais o terei, pois só se tem uma mãe e um pai.
Uma mosquinha me mostrou um dia o toque de mãos carinhosas.
Querida Yulong, não sei o que vou fazer depois disso. Talvez eu a procure para ajudá-la de alguma forma. Posso fazer muitas coisas e não tenho medo de dificuldades, desde que possa dormir em paz. Você se importa se eu for? Escreva e me diga, por favor.
Eu gostaria mesmo de saber como você vai. Continua praticando o seu russo? Você tem remédios? O inverno está chegando de novo, você precisa se cuidar bem.
Espero que me dê uma oportunidade de remediar o mal que causei e fazer alguma coisa por você. Não tenho família, mas espero poder ser uma irmã mais nova para você.
Desejo-lhe felicidade e boa saúde!
Sinto Saudade de você.  

Hongxue, 23 de agosto de 1975.


(Cara tirada do Livro "As Boas Mulheres da China", autora XINRAN)