entrevista
caixas
objeto de cada um
o silêncio e as ações
o que vc fez de incrível essa semana?
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
JÁ VÔ
Já Vôôôô!!!!
Todo dia, meio dia em ponto minha avó me chama pra acordar o meu avô.
É um ritual:
Eu levo um copo de água ou chá e deixo no criado-mudo, do lado dele
dou um beijo com muito carinho e silêncio no meu Lelo
abro a janela
ligo a TV
Desço e sei que ele só vai descer as três da tarde (completamente cheiroso) pra almoçar e ir trabalhar no restaurante.
Ele faz isso todo dia, sete vezes por semana, todos os dias do ano. Desde que eu me entendo por gente.
Chega no restaurante e senta na mesa no meio do salão. De lá ele vê tudo. o forno, a porta, o caixa, os garçons e os clientes. E até as costas, o que tá longe do olho... ele vê tbm.
Eu nunca soube como ele fazia isso, mas em casa era a mesma coisa - ele sabia quem tava bem na escola, quem tava bem e mal de grana, se tinha rolado alguma briga... Isso pq ele ficava em casa aquelas três horas no quarto, almoçava, ia trabalhar e só voltava na madrugada.
E eu tbm não sei bem pq escolhi contar essa história. Sei que ele foi meu pai, que tava sempre lá pra mim... que era o cara mais justo que eu já conheci...
E que eu daria um ano inteiro da minha vida pra repetir aquele ritual por mais um dia.
Todo dia, meio dia em ponto minha avó me chama pra acordar o meu avô.
É um ritual:
Eu levo um copo de água ou chá e deixo no criado-mudo, do lado dele
dou um beijo com muito carinho e silêncio no meu Lelo
abro a janela
ligo a TV
Desço e sei que ele só vai descer as três da tarde (completamente cheiroso) pra almoçar e ir trabalhar no restaurante.
Ele faz isso todo dia, sete vezes por semana, todos os dias do ano. Desde que eu me entendo por gente.
Chega no restaurante e senta na mesa no meio do salão. De lá ele vê tudo. o forno, a porta, o caixa, os garçons e os clientes. E até as costas, o que tá longe do olho... ele vê tbm.
Eu nunca soube como ele fazia isso, mas em casa era a mesma coisa - ele sabia quem tava bem na escola, quem tava bem e mal de grana, se tinha rolado alguma briga... Isso pq ele ficava em casa aquelas três horas no quarto, almoçava, ia trabalhar e só voltava na madrugada.
E eu tbm não sei bem pq escolhi contar essa história. Sei que ele foi meu pai, que tava sempre lá pra mim... que era o cara mais justo que eu já conheci...
E que eu daria um ano inteiro da minha vida pra repetir aquele ritual por mais um dia.
palavrar.
Naquelas de começar a exercitar a escrita...
Escrever pelo ato, pela repetição, pela melhora... pra tocar.
Escrever pelo ato, pela repetição, pela melhora... pra tocar.
Pra tocar? Impossível tocar quando não se é tocado... Impossível levar quando nada chega...
E a mediocridade dança... Tudo já foi dito, tudo já foi escrito, tudo já foi sentido.... E a mediocridade dança..
Dito, escutado, escrito, lido... Mas, Sentido? Sentido por quem? Aqui nada é sentido... busca-se O sentido, UM sentido, mas nunca o sentir... Nada se sente...Mas, ei... Isso também já foi dito, escrito, sentido... Sentido por quem?! Aqui não se sente... Não importam o tema, a imagem, as palavras.. Nada toca, nada permeia, nada se sente... Tudo simplesmente passa...e quando muito, levemente arranha...
Muito fechado, muito racional... congelado!
Falta cheiro, falta cor, falta plasticidade... Não, não!! Ta tudo aí... Ao alcance, e em quantidade suficiente pra quem quiser.... Só Falta sentir, acolher, descongelar!
E, como diria o poeta (porque tudo já foi dito) Socorro!! É preciso descongelar...
E quando o descongelamento faz sentido, quer ser sentido! parece que borbulha, chacoalha, treme... Concentradas no timo, as sensações vibram! É hora de cheirar, de enxergar, de sentir, de despertar!..... BUUUUUUUUM!!!! Agora sim!! .. ao infinito, e quiçá, ALÉM!
E a mediocridade dança... Tudo já foi dito, tudo já foi escrito, tudo já foi sentido.... E a mediocridade dança..
Dito, escutado, escrito, lido... Mas, Sentido? Sentido por quem? Aqui nada é sentido... busca-se O sentido, UM sentido, mas nunca o sentir... Nada se sente...Mas, ei... Isso também já foi dito, escrito, sentido... Sentido por quem?! Aqui não se sente... Não importam o tema, a imagem, as palavras.. Nada toca, nada permeia, nada se sente... Tudo simplesmente passa...e quando muito, levemente arranha...
Muito fechado, muito racional... congelado!
Falta cheiro, falta cor, falta plasticidade... Não, não!! Ta tudo aí... Ao alcance, e em quantidade suficiente pra quem quiser.... Só Falta sentir, acolher, descongelar!
E, como diria o poeta (porque tudo já foi dito) Socorro!! É preciso descongelar...
E quando o descongelamento faz sentido, quer ser sentido! parece que borbulha, chacoalha, treme... Concentradas no timo, as sensações vibram! É hora de cheirar, de enxergar, de sentir, de despertar!..... BUUUUUUUUM!!!! Agora sim!! .. ao infinito, e quiçá, ALÉM!
escrevivendo
Escrever é necessidade
Escrever é penseira que [dez]organiza as palavras
é o direito à dú-vida, é transmissão de IN-certeza
Escrever é o poder de transformar.
letras? e Despertar?
- Se sente!
letras? e Despertar?
- Se sente!
Escrever é rir, é chorar, é [in- de - per] formar . e mutatis mutandi
Escrever é éter
café, lotação, sensação - expressa.
emoção. libertá,
café, lotação, sensação - expressa.
emoção. libertá,
Escrever é superviver....
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Manifesto do cafuné
Um dia eu ainda vou escrever um manifesto do cafuné!!
E vai começar assim:
Não se cumprimentem com apertos de mão, beijinho no rosto ou só com o olhar.
A partir de hoje, ao cumprimentar alguém, ofereça um cafuné e se permita receber um cafuné...
Acho que se a gente trocasse cafunés, o mundo ia ser mais molinho....-
E vai começar assim:
Não se cumprimentem com apertos de mão, beijinho no rosto ou só com o olhar.
A partir de hoje, ao cumprimentar alguém, ofereça um cafuné e se permita receber um cafuné...
Acho que se a gente trocasse cafunés, o mundo ia ser mais molinho....-
Sabia? átomos e abraços
Sabia que a gente nunca se toca de verdade?
Os átomos não se encostam de fato... o que a gente tem é uma sensação do contato - a matéria é só ilusória...
O que significa, que quando a gente se encosta não tá encostando de verdade.
Mas é incrível, né? que a gente possa ter essa sensação, ainda que ilusória... essa ilusão de acabar com a distância...
http://www.curaeascensao.com.br/curaquantica_arquivos/curaquantica/curaquantica662.html
Até porque, mesmo que seja só uma sensação - o toque é extremamente poderoso.
Sabia que um abraço que dura mais de 20 segundos promove o bem-estar e tem um efeito terapêutico?
é que o abraço apertado libera um hormônio chamado ocitocina, que tbm é conhecido como hormônio do amor.
http://acritica.uol.com.br/vida/Hormonio-abraco-beneficios-fisica-humano_0_1051694850.html
Paradoxal que a gente não se toque, mas que o toque faça tão bem. Mágico!
Os átomos não se encostam de fato... o que a gente tem é uma sensação do contato - a matéria é só ilusória...
O que significa, que quando a gente se encosta não tá encostando de verdade.
Mas é incrível, né? que a gente possa ter essa sensação, ainda que ilusória... essa ilusão de acabar com a distância...
http://www.curaeascensao.com.br/curaquantica_arquivos/curaquantica/curaquantica662.html
Até porque, mesmo que seja só uma sensação - o toque é extremamente poderoso.
Sabia que um abraço que dura mais de 20 segundos promove o bem-estar e tem um efeito terapêutico?
é que o abraço apertado libera um hormônio chamado ocitocina, que tbm é conhecido como hormônio do amor.
http://acritica.uol.com.br/vida/Hormonio-abraco-beneficios-fisica-humano_0_1051694850.html
Paradoxal que a gente não se toque, mas que o toque faça tão bem. Mágico!
Portas e portais
Eu já ouvi falar que não é muito bom ficar embaixo de porta. Alguém sabe pq?
é tipo uma parada energética... Cada ambiente tem sua própria energia e ficar embaixo de portais é como estar no cruzamento dessas energias... aí, dependendo de que energias são... não faz muito bem!
[partitura da pulada de porta
http://www.jcatibaia.com.br/site/coluna/luiz-netto/196/a-protecao-comeca-pela-porta-de-entrada.html
é tipo uma parada energética... Cada ambiente tem sua própria energia e ficar embaixo de portais é como estar no cruzamento dessas energias... aí, dependendo de que energias são... não faz muito bem!
[partitura da pulada de porta
http://www.jcatibaia.com.br/site/coluna/luiz-netto/196/a-protecao-comeca-pela-porta-de-entrada.html
fogo e fogueira u 15min?
“A noite em redor de uma fogueira é um momento universal para formar laços, difundir informação social, para se entreter e partilhar emoções”,“A noite em redor de uma fogueira é um momento universal para formar laços, difundir informação social, para se entreter e partilhar emoções”
...
” O que acontecerá às relações sociais num mundo onde “apenas tenho 15 minutos para contar uma história de adormecer aos meus filhos”?
...
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/conversas-a-luz-de-uma-fogueira-terao-estimulado-a-evolucao-das-nossas-capacidades-cognitivas-sociais-e-culturais-1670502
...
” O que acontecerá às relações sociais num mundo onde “apenas tenho 15 minutos para contar uma história de adormecer aos meus filhos”?
...
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/conversas-a-luz-de-uma-fogueira-terao-estimulado-a-evolucao-das-nossas-capacidades-cognitivas-sociais-e-culturais-1670502
manga na boca
[1 pessoa - afastado - comendo manga]
Vc gosta de manga?
(Se sim, oferece e pergunta:
De que
maneira costuma comê-los? Com a boca toda, não é? Abre-se
pelo meio; depois apertamos com os dedos até escorrer o sumo...
como dois lábios carnudos... Que delícia!
Se não, responde: eu adoro)
Na minha casa, sempre tinha uma cesta de frutas. Mas, na época do Natal, tinha bem umas três cestas... e uma delas era quase inteirinha de manga.
O cheiro de manga me leva direto pro Natal na casa da minha avó. Engraçado que eu lembro do cheiro do Natal na minha casa, mas do cheiro da minha casa mesmo, eu não lembro... Sabe?
Aquela espécie de cheiro particular de
cada casa! Da sua, da minha... – mas na nossa, nós já não sentimos
mais, porque já é o cheiro da nossa própria vida...
Eu não consigo mais lembrar qual era o cheiro da minha vida.
A casa era enorme. Eu morava lá com os meus avós, minha tia, minha mãe e meus irmãos.
Tinha 4 quartos, duas suítes, 3 salas, 1 salão de festas, 1 jardim de inverno, 1 lavanderia, 1 cozinha, 1 copa, 1 vestiário, 1 piscina, 1 pé de cacau, 1 quarto de costura, 1 garagem pra 6 carros, 1 pé de cacau e o meu canto preferido - a biblioteca, que tinha cheiro de mofo e livro novo, ao mesmo tempo -
eu morei lá a vida toda.
Aí minha mãe foi pra Vinhedo, minha irmã foi pra Minas, meu avô foi pro céu e eu vim pro Rio.
E a casa ficou grande pra minha avó e a minha tia.
Ano passado, elas venderam a casa e a gente passou o último Natal lá.
Agora já entregaram, já demoliram, doaram os 5 mil livros do meu avô e esse ano vai ser meu primeiro Natal em outro lugar...
Tomara que ainda tenha cheiro de manga...
Vc gosta de manga?
(Se sim, oferece e pergunta:
De que
maneira costuma comê-los? Com a boca toda, não é? Abre-se
pelo meio; depois apertamos com os dedos até escorrer o sumo...
como dois lábios carnudos... Que delícia!
Se não, responde: eu adoro)
Na minha casa, sempre tinha uma cesta de frutas. Mas, na época do Natal, tinha bem umas três cestas... e uma delas era quase inteirinha de manga.
O cheiro de manga me leva direto pro Natal na casa da minha avó. Engraçado que eu lembro do cheiro do Natal na minha casa, mas do cheiro da minha casa mesmo, eu não lembro... Sabe?
Aquela espécie de cheiro particular de
cada casa! Da sua, da minha... – mas na nossa, nós já não sentimos
mais, porque já é o cheiro da nossa própria vida...
Eu não consigo mais lembrar qual era o cheiro da minha vida.
A casa era enorme. Eu morava lá com os meus avós, minha tia, minha mãe e meus irmãos.
Tinha 4 quartos, duas suítes, 3 salas, 1 salão de festas, 1 jardim de inverno, 1 lavanderia, 1 cozinha, 1 copa, 1 vestiário, 1 piscina, 1 pé de cacau, 1 quarto de costura, 1 garagem pra 6 carros, 1 pé de cacau e o meu canto preferido - a biblioteca, que tinha cheiro de mofo e livro novo, ao mesmo tempo -
eu morei lá a vida toda.
Aí minha mãe foi pra Vinhedo, minha irmã foi pra Minas, meu avô foi pro céu e eu vim pro Rio.
E a casa ficou grande pra minha avó e a minha tia.
Ano passado, elas venderam a casa e a gente passou o último Natal lá.
Agora já entregaram, já demoliram, doaram os 5 mil livros do meu avô e esse ano vai ser meu primeiro Natal em outro lugar...
Tomara que ainda tenha cheiro de manga...
apresentação magnética
Oi!
Nem me apresentei, né?
Meu nome é Mariah Valeiras Aguiar Miguel.
Valeiras por parte de mãe e Aguiar Miguel por parte de pai.
E eu tenho uma ex-madrasta, um ex-padrasto, uma madrasta, um padrasto, uma mãe, um pai,quatro irmãos e uma irmã. 2 por parte de mãe, 3 por parte de pai.
Vem cá que eu vou explicar melhor.
[na geladeira, imãs]
Esse aqui é meu pai Allan Aguiar Miguel, e essa é minha mãe Teresa Valeiras
E essa sou - Mariah Miguel Valeiras. Mariah, de Mariah - Miguel de Miguel - e Valeiras, de Valeiras mesmo.
Quando eu tinha 7 meses, meus pais se separaram - mas, quando eu completei dois anos eles se casaram outra vez (junta os imã e e separa outra vez) só que com outras pessoas.
Minha mãe casou com o meu padrasto Beto e meu pai casou com a minha madrasta Tóia.
Mais uns dois anos e meu pai engravidou o Beto do Matheus - menos de 6 meses depois, e minha mãe engravidou a Tóia da Veronica. O Matheus, por parte de pai, tem 20 anos - e a Veronica, por parte de mãe, tbm.
Só que aí, mais uns dois anos foi a vez do Beto parir o Victor e a Tóia, parir o Gabriel. O Victor, por parte de mãe, tem 18 anos e o Gabriel, por parte de pai, tbm.
Só que aí, um tempinho depois, minha mãe resolveu se separar - aí o meu pai nem esperou muito, se separou tbm e já casou de novo - aí, minha mãe deu um tempinho e tbm casou a terceira vez.
Nessa época, meu pai engravidou do Arthur e minha mãe já foi logo fazendo a Alice. O Arthur, por parte de pai, tem 7 anos, e a Alice, por parte de mãe tbm.
O Matheus, Veronica, O Victor, O Gabriel e O Arthur são as pessoas que eu mais amo no mundo.
A Alice também seria se eu não tivesse inventado ela só pra história ficar mais redonda...
Mas é isso.
Prazer, meu nome é Mariah Miguel Valeiras e eu tenho 5 irmãos mais novos.
Nem me apresentei, né?
Meu nome é Mariah Valeiras Aguiar Miguel.
Valeiras por parte de mãe e Aguiar Miguel por parte de pai.
E eu tenho uma ex-madrasta, um ex-padrasto, uma madrasta, um padrasto, uma mãe, um pai,quatro irmãos e uma irmã. 2 por parte de mãe, 3 por parte de pai.
Vem cá que eu vou explicar melhor.
[na geladeira, imãs]
Esse aqui é meu pai Allan Aguiar Miguel, e essa é minha mãe Teresa Valeiras
E essa sou - Mariah Miguel Valeiras. Mariah, de Mariah - Miguel de Miguel - e Valeiras, de Valeiras mesmo.
Quando eu tinha 7 meses, meus pais se separaram - mas, quando eu completei dois anos eles se casaram outra vez (junta os imã e e separa outra vez) só que com outras pessoas.
Minha mãe casou com o meu padrasto Beto e meu pai casou com a minha madrasta Tóia.
Mais uns dois anos e meu pai engravidou o Beto do Matheus - menos de 6 meses depois, e minha mãe engravidou a Tóia da Veronica. O Matheus, por parte de pai, tem 20 anos - e a Veronica, por parte de mãe, tbm.
Só que aí, mais uns dois anos foi a vez do Beto parir o Victor e a Tóia, parir o Gabriel. O Victor, por parte de mãe, tem 18 anos e o Gabriel, por parte de pai, tbm.
Só que aí, um tempinho depois, minha mãe resolveu se separar - aí o meu pai nem esperou muito, se separou tbm e já casou de novo - aí, minha mãe deu um tempinho e tbm casou a terceira vez.
Nessa época, meu pai engravidou do Arthur e minha mãe já foi logo fazendo a Alice. O Arthur, por parte de pai, tem 7 anos, e a Alice, por parte de mãe tbm.
O Matheus, Veronica, O Victor, O Gabriel e O Arthur são as pessoas que eu mais amo no mundo.
A Alice também seria se eu não tivesse inventado ela só pra história ficar mais redonda...
Mas é isso.
Prazer, meu nome é Mariah Miguel Valeiras e eu tenho 5 irmãos mais novos.
Raphael
[no banho - - moicano de shampoo]
Mãe é mãe,
mãe não é só mãe
Mãe é tudo na minha vida
Mãe é amor,
mãe é amizade
mãe, eu amo você de verdade
Oi, Rapha,
Ah, não me vem com essa de querer mudar de nome outra vez... Já falei q não pode!
você gostou da música que eu fiz pra minha mãe?
Outro dia ela me disse que eu posso ser tuuuudo que eu quiser, menos cantora! E.... tudo bem, porque eu não quero ser cantora mesmo,
mas...
... outro dia, eu vi na televisão que a Cláudia Raia é uma atriz completa, porque ela canta, dança e atua.
E eu quero ser atriz... e eu não sei dançar, aí, fiquei pensando que se eu aprender a semi cantar, eu posso ser uma atriz semi completa.... tá bom, né?
e, pelo menos eu já to compondo, também...
Se eu já começar a fazer minhas músicas agora, eu posso ter um montão de música quando eu tiver uns 19 anos e já for famosa...
Pq vc tá rindo? Eu não acho nenhuma graça...
E, pro seu conhecimento, senhor Ra - pha - el, o senhor nem deveria estar aqui tomando banho comigo...
Não me importa que você seja um amigo imaginário. Eu já tenho 8 anos... e como minha mãe mesmo diz, já sou uma mocinha!
Mãe é mãe,
mãe não é só mãe
Mãe é tudo na minha vida
Mãe é amor,
mãe é amizade
mãe, eu amo você de verdade
Mãe é mãe,
mãe não é só mãe
Mãe é tudo na minha vida
Mãe é amor,
mãe é amizade
mãe, eu amo você de verdade
Oi, Rapha,
Ah, não me vem com essa de querer mudar de nome outra vez... Já falei q não pode!
você gostou da música que eu fiz pra minha mãe?
Outro dia ela me disse que eu posso ser tuuuudo que eu quiser, menos cantora! E.... tudo bem, porque eu não quero ser cantora mesmo,
mas...
... outro dia, eu vi na televisão que a Cláudia Raia é uma atriz completa, porque ela canta, dança e atua.
E eu quero ser atriz... e eu não sei dançar, aí, fiquei pensando que se eu aprender a semi cantar, eu posso ser uma atriz semi completa.... tá bom, né?
e, pelo menos eu já to compondo, também...
Se eu já começar a fazer minhas músicas agora, eu posso ter um montão de música quando eu tiver uns 19 anos e já for famosa...
Pq vc tá rindo? Eu não acho nenhuma graça...
E, pro seu conhecimento, senhor Ra - pha - el, o senhor nem deveria estar aqui tomando banho comigo...
Não me importa que você seja um amigo imaginário. Eu já tenho 8 anos... e como minha mãe mesmo diz, já sou uma mocinha!
Mãe é mãe,
mãe não é só mãe
Mãe é tudo na minha vida
Mãe é amor,
mãe é amizade
mãe, eu amo você de verdade
sábado, 29 de novembro de 2014
Caminhar em preto e branco, linhas e aspargos
Quando eu era criança eu gostava de andar na rua pisando só naquelas cerâmicas ou pisos que tinha preto e branco sabe? Eu só pisava no preto. Ou no branco dependia da regra do dia. Às vezes era só nas linhas ou só no meio fio das calçadas. Mas o que eu mais gostava era de pisar nos pretos... sabia que os aspargos são cultivados no escuro pra nascerem brancos? Cultivados no escuro pra nascerem brancos... Engraçado isso ne? Não é engraçado?
S A M U E L
C A S A C O S M E V E L H O
Sobre soldadinhos, carambolas, açude, chuva, "carcunda", colchões e xixi de vovô
Experimento - Saudade - 17/10/2014
"Soldadjinho de chumbo...tsc! (Com sotaque) Soldadinho de chumbo. Inseto. Sabe soldadinho de chumbo? Aquele bichinho preto com um pinta branca na barriga? Tinha um monte de soldadinho de chumbo no quintal da casa da minha avó. Quintal da casa da minha avó. Tinha um monte de soldadinho de chumbo no pé de carambola do quintal da casa da minha avó. Carambola. Suco de carambola. Casa da minha avó. Carne de panela da minha avó. - Vóóóó, tem carne? Vóóóóó tem carne? A carne de panela de vovó é tão gostosa. Eu gosto que só! O quintal da casa da minha avó era bem grande! Tinha pé de carambola, goiaba, laranja. E no fundo do quintal meu avô fazia colchão de capim forrado com xita pra vender. Não lembro da voz do meu avô. Ele já não falava mais, nem tomava banho. Era um cheiro de cachimbo e xixi que ele tinha. Caminho da casa da minha vó pra minha casa. Da minha casa pra casa da minha avó. Da casa da minha avó pra minha casa. Da minha casa pra casa da minha avó. Sempre na corcunda do meu pai. Era tudo na corcunda do meu pai. Açude na corcunda do meu pai, feira na corcunda do meu pai, igreja na corcunda do meu pai, praça, rua, mercado, escola, chuuuuva na corcunda do meu pai. Quando chovia a gente gostava de mergulhar na correnteza que se formava no meio fio das calçadas. A gente mergulhava e deixava a correnteza levar. Era água muito suja viu? Muito suja!! Mas a gente nem ligava!! - Uhhuuullll!!! - Mas, às vezes, era tempo de seca. A gente tinha que juntar água. Juntar água pra economizar. Tinha que tomar banho de cuia. - Já tomou banho de cuia? - Era cinco cuias de água pra cada banho, pra não gastar muita água. - uma, duas, três, quatro, cinco... - pronto, tava limpo. (deita na posição inicial, fecha os olhos, suspira) Eu queria poder dormir e quando acordar sê lá. Seria tão bom se a gente dormisse e quando acordasse fosse lá ne? Eu queria acordar e sê lá..."
S A M U E L
C A S A D A C H R I S
Meu pombo morreu!
Um dia, quando eu tinha uns 7 ou 8 anos, um pombo caiu no quintal da minha casa. Achei lindo e comecei a cuidar dele como um bicho de estimação. Ele tava ferido e bem sujo. Resolvi dar um banho nele pra ver se ele melhorava. No quintal também ficava o tanque de lavar roupas. Lá estavam algumas roupas de molho no sabão em pó. Imediatamente mergulhei o pombo naquela água ensaboada e esfreguei, esfreguei, esfreguei, enquanto ele se debatia e emitia alguns sons de desconforto. Eu tava crente que tava fazendo bem a ele tirando aquela sujeira e deixando ele cheiroso. Quando achei que tinha terminado, larguei o pombo no chão, onde tinha sol pra ele secar. O pombo não deu mais que cinco passos e caiu duro. Eu pela primeira vez na vida perdia algo de grande valor. Chorei, gritei, esperneei. Meus pais correram pra tentar salvar o pombo, mas já era tarde. Minha mãe, pra me consolar, prometeu fazer um enterro bem bonito e trouxe uma caixa de sapato e alguns retalhos de tecido pra envolver o pombo. Dediquei-me a esse evento e acabei esquecendo de sofrer. Levamos a caixa de sapato, com o pombo dentro, para casa da minha vó e enterramos ele embaixo do pé de limão. Tenho uma imagem pouco nítida desse dia. Lembro de algo como uma manhã e uma luz de sol fraquinha. Enterramos e voltei pra casa na "carcunda" do meu pai.
S A M U E L
C A S A C O S M E V E L H O
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
minha casa não tinha portas
eu pego na sua mão e te trago comigo, para um canto bom, um lugar onde a gente possa conversar. eu estou aqui com você, agora. peço pra você fechar os olhos. pergunto o que você ouve, o que você escuta, dos barulhos mais próximos aos mais afastados, quase irreconhecíveis. então começo a falar. talvez você abra os olhos, talvez não.
minha casa não tinha PORTAS. quer dizer, é claro que tinha, mas elas nunca eram FECHADAS, muito menos TRANCADAS. acho que foi por isso que me acostumei a ouvir CADA RUÍDO da casa.
levo você para uma pequena volta. continua com os olhos fechados?
estou aqui sentado em meu quarto, o quartel general do barulho de toda a casa. ouço baterem todas as portas, ouço ainda a porta do fogão sendo fechada.o pai arromba as portas de meu quarto e o atravessa arrastando a camisola. no aquecedor, no quarto contíguo, as brasas estalam. valli pergunta, da antecâmara, bradando palavra por palavra se o chapéu do pai já foi limpo. a maçaneta da porta da frente é abaixada, e a porta continua se abrindo, com um canto feminino. e fecha-se finalmente com um tranco abafado, masculino, que soa como o mais desconsiderado.
sabia de longe quando o barulho dos CHINELOS batendo no chão era de meu pai. ou, pelo ranger das dobradiças, quando era minha mãe que fechava a JANELA.
trago sua mão pro meu coração, pra você sentir minha pulsação. pra mim, tampouco está sendo fácil falar.
um dia MEU PAI ENTROU NO QUARTO e eu estava com o pau pra fora, duro. eu batia punheta de porta aberta, claro. era muito melhor pra escutar se vinha alguém chegando. durante muito tempo, pra mim o prazer do sexo se resumia ao MOMENTO DO GOZO. só na ARGENTINA comecei a sentir prazer antes de gozar, e a verdade é que até hoje ainda estou aprendendo. talvez porque lá eu pudesse me trancar O QUANTO QUISESSE. minhas portas de la plata foram tão importantes que até hoje guardo minhas chaves de lá, como se elas me EMPODERASSEM de alguma coisa.
abre os olhos. agora, me conta um SEGREDO TEU?
minha casa não tinha PORTAS. quer dizer, é claro que tinha, mas elas nunca eram FECHADAS, muito menos TRANCADAS. acho que foi por isso que me acostumei a ouvir CADA RUÍDO da casa.
levo você para uma pequena volta. continua com os olhos fechados?
estou aqui sentado em meu quarto, o quartel general do barulho de toda a casa. ouço baterem todas as portas, ouço ainda a porta do fogão sendo fechada.o pai arromba as portas de meu quarto e o atravessa arrastando a camisola. no aquecedor, no quarto contíguo, as brasas estalam. valli pergunta, da antecâmara, bradando palavra por palavra se o chapéu do pai já foi limpo. a maçaneta da porta da frente é abaixada, e a porta continua se abrindo, com um canto feminino. e fecha-se finalmente com um tranco abafado, masculino, que soa como o mais desconsiderado.
sabia de longe quando o barulho dos CHINELOS batendo no chão era de meu pai. ou, pelo ranger das dobradiças, quando era minha mãe que fechava a JANELA.
trago sua mão pro meu coração, pra você sentir minha pulsação. pra mim, tampouco está sendo fácil falar.
um dia MEU PAI ENTROU NO QUARTO e eu estava com o pau pra fora, duro. eu batia punheta de porta aberta, claro. era muito melhor pra escutar se vinha alguém chegando. durante muito tempo, pra mim o prazer do sexo se resumia ao MOMENTO DO GOZO. só na ARGENTINA comecei a sentir prazer antes de gozar, e a verdade é que até hoje ainda estou aprendendo. talvez porque lá eu pudesse me trancar O QUANTO QUISESSE. minhas portas de la plata foram tão importantes que até hoje guardo minhas chaves de lá, como se elas me EMPODERASSEM de alguma coisa.
abre os olhos. agora, me conta um SEGREDO TEU?
Familia Chris
Pego o rádio, ligo e peço ajuda para colocar na rádio 99,9. Vou até a geladeira pego uma forma de gelo e um copo. Tiro os cubos, coloco dentro do copo e começo a conversar com o público, aos poucos vou mexendo no gelo.
Passei esse final de semana na casa dos meus pais. Acho muito engraçado perceber que nada mudou. Eles são como duas pessoas que permaneceram da mesma forma há anos, desde que sou pequena. O tempo passa e as memórias se repetem. Eles brigam da mesma forma, pelas mesmas coisas, reagem do mesmo jeito.
Nós sempre andamos de carro, longos trajetos. Os dois sentados na frente, eu atrás,todos calados, quietos. Só se ouvia o rádio. Sentia o peito apertar, uma vontade de fugir, sair desse lugar. Secretamente pensava em pular do carro em movimento, me imaginava rolando e em seguida morrendo, melhor mudar o plano. Acabava me rendendo a música, cantarolava, batucava, fechava os olhos, deitava no banco de trás e ficava vendo o mundo passar de cabeça para baixo, a copa das árvores, o sol que se escondia ou se revelava por detras das folhas me cegando, os fios de energia, pedaços do céu...
Em algum momento eu tentava interagir com eles, fazer uma coisa diferente, os desafiava, ríamos um pouco, brigávamos um pouco mais. Tentava lidar com o inaceitável.
Minha mais audaciosa tentativa de contato foi em um Natal, tirei meu pai no amigo oculto e resolvi dar um livro para ele: A Terra Vista do Céu, dei o livro e escrevi uma carta para ele, que tinha coisas que escrevi e no final um poema do Caeiro.
Li a carta assim que entreguei o presente, na frente de todos. Eu o agradeci por tudo que ele havia feito por mim, disse que o amava e sabia que ele estaria sempre ao meu lado. E fiz também um apelo, para que ele olhasse para as coisas mais simples, percebesse a poesia do mundo, apelo esse feito utilizando as palavras do poeta.
Sua reação a esse gesto foi de total asperza, me deu uma resposta raivosa, vomitou palavras, em sua maior parte de ataque, disse que eu precisava acordar para a vida, crescer, ver o mundo como ele é, disse também que esse poeta apesar de genial era esquizofrenico e que era preciso tomar cuidado com esse tipo de coisa...
(Pausa)
Eu perguntei para minha mãe que objeto ela gostaria de ser. Sabe o que ela respondeu? (Pergunto para o público)
Uma jarra
Coloco o copo até o gelo estar quase todo derretido em uma superfície e dentro dele coloco uma flor. Vou embora ou sou interrompida por um dos atores.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Saudade Chris
Toco Asa Branca na gaita e vou andando para a parte de fora da casa (tendência para que a cena aconteça depois da saudade do Samu). Lá, bem no centro, está colocada uma cesta com vários relatos de saudades que serão coletados ao longo do processo. Os participantes só poderão pegar um dos papéis, se colocarem outro no cesto e ao pegarem o papel poderão ler ou não para o grupo. À medida que a cena acontece deixo de tocar a música e começo a emitir sons, brincar com as melodias até que a cena é atravessada por um outro dispositivo.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Um pouco de Pessoa
"Tudo quanto um homem expõe ou exprime é uma nota a margem de um texto. Mais ou menos, pelo sentido da nota, teríamos o sentido que havia de ter o texto; mas fica sempre uma dúvida e os sentidos possíveis são muitos"
O dia em que trouxemos algo
Ricardo
Os sons de uma casa
Maçaneta na porta
Canto dos bichos
(Como é quando um homem bate na porta ou uma mulé?)
Oportunidade para um pequeno desespero
Rituais de uma casa - sensações dos lugares da casa
Samuel
Tempo doente, cansado
Pegar os pedaços do tempo
Mastigar as horas
Gostaria de um terço das oito horas
Mariah
"Um tanto assim que é tanto"
admirar a beleza das perguntas, muito mais...
o mundo de dentro. simplicidade. distorções da percepção. o olhar de cada um na casa. único. intransferível. partilhado. amasso da cama feito com a tinta --> textura confortável.
Apresentação Chris
(Começa a apresentação no banheiro da casa. (Em algum momento ser interrompida por algum dos atores batendo a porta ou por ou discussão ou uma pílula de ação.)
Sempre tive uma sensação de despertencimento
Sempre tive uma sensação de despertencimento
Do lugar onde nasci, inclusive de mim
Sou filha única de pais com uma leve tendência ao controle
Passei muito tempo brincando sozinha em casa e meu lugar favorito era o banheiro
Era o único comodo que eu podia trancar (tranca a porta)
(Falando mais rápido) Gostava do frescor do banheiro, da água, da banheira, do espelho em cima da pia, das maquiagens e cremes da minha mãe...
Fazia ali minha pequena ilha. Virava uma pirata, india (subo em cima da pia)
Dentro do box tinha um batente onde eu subia e espiava um recorte do mundo lá fora, o prédio vizinho, na verdade, olhava para o apartamento que ficava bem na frente da fresta e espiava seu morador solitário.
(senta na pia e olha para o espelho) Quando dava conta estava de frente para o espelho. Ficava lá não por vaidade, mas para cair dentro do labirinto de minha própria imagem.
Reconhecer que não haveria reconhecimento
que a imagem absurda seria sempre de um outro
dimensões em coexistência
agente e espectadora
deixando-se possuir por todos que não eram ela
na temporalidade cotidiana
pensando que se um padre espiasse pela fechadura
e a inquisição ainda estivesse na ativa
em poucos minutos ela estaria dançando
junto ao fogo onde fora forjada
cabelos delicados quase quebráveis
olhos penetrantes pontiagudos
(falar o que estou vendo, o que reparo no dia)
rosto nosso
absoluto e andrógino
de cuja simbiose indenitária
não pode ainda abrir mão
Lembram da banheira? Tinha um jato na banheira...
(sai. Em algum outro momento da experiência, experimenta)
terça-feira, 11 de novembro de 2014
01 (hum) sonho
A casa é grande.
Atmosfera hostil,
Do lado de fora, um descampado e muita terra. Passam dois bois.
é sobre teatro e a impossibilidade do teatro.
Lála taí.
Seguimos, em corrida, os dois animais.
Galope.
Acordo.
Atmosfera hostil,
Do lado de fora, um descampado e muita terra. Passam dois bois.
é sobre teatro e a impossibilidade do teatro.
Lála taí.
Seguimos, em corrida, os dois animais.
Galope.
Acordo.
escorre tempo
tempo escorre não linear não apreensível
perfura.
perfuração e abcesso.
dar a ver
relação?
Sublime! Banal...
perfura.
perfuração e abcesso.
dar a ver
relação?
Sublime! Banal...
Ricardo e Kafka
memória. rotina passada passado.
cheiros - sons.
Imagens que trazem um tempo à tona. presentificam. passadificam.
angústia e conforto
tristeza bonita
alegria saudosa
CONTIGO
cheiros - sons.
Imagens que trazem um tempo à tona. presentificam. passadificam.
angústia e conforto
tristeza bonita
alegria saudosa
CONTIGO
cidadã instigada
Suspensão.
Textura cremosa
Intimidade - virada - depoimento - rotina - cotidiano - corriqueiro - passagem - cruzamento
TROCA. TOQUE.
"Liberdade no encontro com o Outro"
Olhar. escuta.
ando, paro e respiro.
Silêncio na multidão. GRITO de indivíduo.
Melodia que abraça.
Embalar. (embalo - embalagem)
Revestimento.
Textura cremosa
Intimidade - virada - depoimento - rotina - cotidiano - corriqueiro - passagem - cruzamento
TROCA. TOQUE.
"Liberdade no encontro com o Outro"
Olhar. escuta.
ando, paro e respiro.
Silêncio na multidão. GRITO de indivíduo.
Melodia que abraça.
Embalar. (embalo - embalagem)
Revestimento.
crocância
Luzes apagadas, pequena fresta na janela.
Iluminação cambaleante / bruxuleante do televisor. blockbuster.
Cobertor. almofadas. sofá. coxa. cabelo. cafuné. pele. montinho. aconchego.
pipoca. o cheiro que toma conta da sala. pipoca salgada, pipoca com manteiga, pipoca doce. mastigar de pipocas.
pausa pro xixi.
tssss. alguém abriu a coca-cola. não tão gelada, pq fora da geladeira. coca, pipoca e filme no sábado. quantos filmes a gente já viu? abre o chocolate e coloca mais um. amanhã ainda é domingo.
Iluminação cambaleante / bruxuleante do televisor. blockbuster.
Cobertor. almofadas. sofá. coxa. cabelo. cafuné. pele. montinho. aconchego.
pipoca. o cheiro que toma conta da sala. pipoca salgada, pipoca com manteiga, pipoca doce. mastigar de pipocas.
pausa pro xixi.
tssss. alguém abriu a coca-cola. não tão gelada, pq fora da geladeira. coca, pipoca e filme no sábado. quantos filmes a gente já viu? abre o chocolate e coloca mais um. amanhã ainda é domingo.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Uma palestra
casa | s.f. 1 associação: agremiação <a c. do estudante> 2 botoeira <as c. de uma blusa> 3 classe <a c. do milhar> 4 convento: mosteiro <c. beneditinas> 5 década: decenário, decênio <ele já está na c. dos 30> 6 decoração: mobiliário <c. luxuosa> 7 divisão: espaço, subdivisão <quantas c. tem um tabuleiro de damas?> 8 domicílio: habitação, morad(i)a, residência, vivenda 9 lar: família <a educação começa em c.> 10 linhagem: dinastia, estirpe, geração <a c. de Bragança> 11 loja: armazém, estabelecimento, (super)mercado 12 fig. plateia: assitência, público <a estreia teve c. lotada>
casa sf. 1. Edifício destinado, em geral, a habitação. 2. Lar, família. 3. Estabelecimento, firma. 4. Abertura por onde passa o botão; botoeira. 5. Grupo de dezenas, começando por dez ou múltiplo desse número, na idade de uma pessoa. | casa de detenção. 1. Estabelecimento oficial onde ficam detidos os réus que aguardam julgamento. 2. P. ext. V. cadeia (2).
casa s.f. 1. Casa, vivienda, residencia. 2. Ojal. 3. Casa, establecimiento comercial o industrial. 4. División de tablero, casilla, casillero. 5. Casa, familia noble. 6. Fig. Hogar. Las buenas costumbres se aprenden en el hogar. | Casa de campo. Villa, quinta. Casa geminada. Casa adosada/pareada.
casa sf. 1. Edifício destinado, em geral, a habitação. 2. Lar, família. 3. Estabelecimento, firma. 4. Abertura por onde passa o botão; botoeira. 5. Grupo de dezenas, começando por dez ou múltiplo desse número, na idade de uma pessoa. | casa de detenção. 1. Estabelecimento oficial onde ficam detidos os réus que aguardam julgamento. 2. P. ext. V. cadeia (2).
casa s.f. 1. Casa, vivienda, residencia. 2. Ojal. 3. Casa, establecimiento comercial o industrial. 4. División de tablero, casilla, casillero. 5. Casa, familia noble. 6. Fig. Hogar. Las buenas costumbres se aprenden en el hogar. | Casa de campo. Villa, quinta. Casa geminada. Casa adosada/pareada.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
escuta, chris
, é uma pena que tudo isso um dia vá acabar porque inevitavelmente vai acabar como todas as coisas acabam e você tão cara e tão necessária pra mim nesse momento vai se tornar apenas numa referência uma mulher que marcou certo período da minha vida e com o tempo vai ficar só seu nome porque nem os traços do seu rosto eu vou conseguir lembrar as coisas do mundo vão sendo entendidas por camadas do nosso pensamento até que as entendemos de forma tão definitiva que parece que sempre soubemos delas
uma pergunta. e uma resposta.
- Quanto tempo você quer viver?
- O suficiente pra não sofrer demais.
- O suficiente pra não sofrer demais.
possível final 1
Sentados em volta da mesa. Uma vela acesa no meio. Luzes apagadas, janelas fechadas. Conversamos.
Ricardo diz que uma das coisas que ele mais gosta no teatro é o tanto que se troca com alguém em cena. Essa partilha de uma intimidade que abrange um outro pedaço da vida. Uma cumplicidade de uma outra ordem, que diz respeito a um outro tipo de relação. Não necessariamente melhor ou pior que a da vida ordinária, mas diferente.
Mariah levanta da mesa e vai buscar alguma coisa em sua bolsa. Ricardo não entende a atitude de Mariah, fica até um pouco ofendido, está falando sobre algo que lhe é muito caro, meu deus.
Mas ele não parou de falar. Completou que, nesse trabalho, esse mesmo da casa, ainda por cima estamos indo muito em nós mesmos, compartilhando muito do que é nosso. Se embaralha um pouco com a fala, Mariah voltou, ela tem uns papéis na mão, Ricardo termina dizendo que já sente uma coisa muito forte por todos ali.
Mariah lê. Apenas lê. E diz tudo que precisava ser dito. Diz que comunicação é sempre amor, não tem outro meio. E amor é sempre acompanhado por confiança, confiança de que o outro é capaz; porque o outro sou eu. Se o outro é capaz, eu também me torno capaz. Isto é o oposto de paternalismo, patriarcado, capitalismo. É a liberdade. Quando eu posso receber o outro, então estou comunicando; quando eu escuto o outro e sei que posso falar também. Estes momentos não acontecem todos os dias porque estamos inseridos em fortes estruturas de poder e opressão – estão ao nosso redor, por dentro, por toda parte. Vivemos num mundo que não quer que sejamos tocados porque se formos, nos tornaremos poderosos e capazes de mudar as coisas. Teatro político é portanto qualquer teatro voltado para esta noção básica de respeito aos seres humanos como iguais. E estar sempre em movimento porque nada está de fato completo e finalizado. O ator finge que finge. E este texto foi escrito para ser jogado no mar.
Não há mais nada a ser dito, pois. Apagamos a vela. Escuro.
Ricardo diz que uma das coisas que ele mais gosta no teatro é o tanto que se troca com alguém em cena. Essa partilha de uma intimidade que abrange um outro pedaço da vida. Uma cumplicidade de uma outra ordem, que diz respeito a um outro tipo de relação. Não necessariamente melhor ou pior que a da vida ordinária, mas diferente.
Mariah levanta da mesa e vai buscar alguma coisa em sua bolsa. Ricardo não entende a atitude de Mariah, fica até um pouco ofendido, está falando sobre algo que lhe é muito caro, meu deus.
Mas ele não parou de falar. Completou que, nesse trabalho, esse mesmo da casa, ainda por cima estamos indo muito em nós mesmos, compartilhando muito do que é nosso. Se embaralha um pouco com a fala, Mariah voltou, ela tem uns papéis na mão, Ricardo termina dizendo que já sente uma coisa muito forte por todos ali.
Mariah lê. Apenas lê. E diz tudo que precisava ser dito. Diz que comunicação é sempre amor, não tem outro meio. E amor é sempre acompanhado por confiança, confiança de que o outro é capaz; porque o outro sou eu. Se o outro é capaz, eu também me torno capaz. Isto é o oposto de paternalismo, patriarcado, capitalismo. É a liberdade. Quando eu posso receber o outro, então estou comunicando; quando eu escuto o outro e sei que posso falar também. Estes momentos não acontecem todos os dias porque estamos inseridos em fortes estruturas de poder e opressão – estão ao nosso redor, por dentro, por toda parte. Vivemos num mundo que não quer que sejamos tocados porque se formos, nos tornaremos poderosos e capazes de mudar as coisas. Teatro político é portanto qualquer teatro voltado para esta noção básica de respeito aos seres humanos como iguais. E estar sempre em movimento porque nada está de fato completo e finalizado. O ator finge que finge. E este texto foi escrito para ser jogado no mar.
Não há mais nada a ser dito, pois. Apagamos a vela. Escuro.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Onde está o amor?
Lavando o rosto no banheiro. Enquanto isso, lá fora, responde-se a um guardanapo de papel com a pergunta "Onde está o amor?", condição para que entrem no banheiro. Quando todos entram, peço que alguém me leia o primeiro bilhete. Escovo os dentes durante a leitura.
"Eu venho tentando o silêncio. Tentando me distrair pra não me pegar pensando em você. Mas não é simples. Dá saudade. Das pernas juntas, dos beijos, das mãos nos cachos, do cheiro..."
Esses dias me perguntaram, de supetão, num pedaço de guardanapo, onde estava o amor. Não soube o que responder, embora muito me tenha passado pela cabeça.
Sinto-me jogado de um lado para outro em meu desejo que, torpe, caminha trôpego, bêbado, numa tentativa risível de voltar pra casa.
Logo no dia seguinte à pergunta do guardanapo, recebi uma mensagem do Gabriel. Ele falava do seu silêncio, do meu, e das possíveis armadilhas que muitos silêncios juntos são capazes de engendrar, às vezes mesmo sem maldade aparente.
É difícil, muito difícil, caminhar sem tropeçar. Tanto quanto, pra mim, viver sem amar. Mas é só quando (suspensão) a gente caminha sem pensar - nas pedras fora do lugar, nas poças que respingam, nas formigas que inevitavelmente se mata, nos desvãos e nos desvios - é só quando a gente caminha sem pensar que não se corre o risco de cair. Que trabalho árduo é o de andar.
Eu acho que eu sinto saudade do futuro. De quando eu conseguir não pensar tanto.
Deus existe? Sim ou não?
E se lhe fosse comprovada a sua existência - ou mesmo sua não existência - isso mudaria seu comportamento no dia-a-dia?
Peço pra que alguém leia o segundo bilhete. Deixo o banheiro antes do fim da leitura.
"Sinto sua falta. De saber de você. De ver você evoluir. Sinto falta de muita coisa. Queria te lembrar disso, pra que a gente não caia em nenhuma armadilha do silêncio. Não quero jogo. Quero verdade, transparência e vontade. Então tá aqui a minha vontade de dizer o que sinto. Sinto falta."
"Eu venho tentando o silêncio. Tentando me distrair pra não me pegar pensando em você. Mas não é simples. Dá saudade. Das pernas juntas, dos beijos, das mãos nos cachos, do cheiro..."
Esses dias me perguntaram, de supetão, num pedaço de guardanapo, onde estava o amor. Não soube o que responder, embora muito me tenha passado pela cabeça.
Sinto-me jogado de um lado para outro em meu desejo que, torpe, caminha trôpego, bêbado, numa tentativa risível de voltar pra casa.
Logo no dia seguinte à pergunta do guardanapo, recebi uma mensagem do Gabriel. Ele falava do seu silêncio, do meu, e das possíveis armadilhas que muitos silêncios juntos são capazes de engendrar, às vezes mesmo sem maldade aparente.
É difícil, muito difícil, caminhar sem tropeçar. Tanto quanto, pra mim, viver sem amar. Mas é só quando (suspensão) a gente caminha sem pensar - nas pedras fora do lugar, nas poças que respingam, nas formigas que inevitavelmente se mata, nos desvãos e nos desvios - é só quando a gente caminha sem pensar que não se corre o risco de cair. Que trabalho árduo é o de andar.
Eu acho que eu sinto saudade do futuro. De quando eu conseguir não pensar tanto.
Deus existe? Sim ou não?
E se lhe fosse comprovada a sua existência - ou mesmo sua não existência - isso mudaria seu comportamento no dia-a-dia?
Peço pra que alguém leia o segundo bilhete. Deixo o banheiro antes do fim da leitura.
"Sinto sua falta. De saber de você. De ver você evoluir. Sinto falta de muita coisa. Queria te lembrar disso, pra que a gente não caia em nenhuma armadilha do silêncio. Não quero jogo. Quero verdade, transparência e vontade. Então tá aqui a minha vontade de dizer o que sinto. Sinto falta."
apresentação Ricardo
Meu nome é Ricardo. Cabral. Cabral Pereira – mas é verdade é que Pereira é meu sobrenome renegado. Não sei, acho feio. Não gosto do som – Pereira. Nasci no dia 09 de abril de 1990, às quatro e vinte da manhã – e juro que foi quatro e vinte mesmo, pura ironia do destino. Sou brasileiro, homem e gay, vinte e quatro anos. Sou carioca mas nasci em Petrópolis. Petropolitano. Pouco antes do meu parto, minha mãe viajou para um antigo sítio da família, em Pedro do Rio. Ela já tinha feito o mesmo quando do nascimento da minha irmã mais velha e do irmão que nunca chagamos a conhecer. Queria que nascêssemos perto da natureza, no meio do mato e longe da cidade. O lugar depois foi vendido. Queria muito lembrar de lá.
Sou ator. E para poder ser ator, me desdobro nas aulas de espanhol e nos freelas de tradução, revisão e assessoria de imprensa. Faço qualquer coisa que der – mas aprendi que dignidade não se vende.
Sou de Áries, mas o elemento que menos tenho no meu mapa é fogo. A verdade é que sou um grande pisciano, com uma neca de fogo que me faz não ter medo de seguir em frente, por mais escuro que tudo pareça. Mas não tem jeito: sou da água do mar, lá do meio do oceano, onde tudo parece infinito demais, profundo demais, grande demais para que eu mesmo consiga... não sei.
Pensar em como me apresentar foi absolutamente desesperador. E sei que não me apresentei. O ponto é que é difícil dizer quem sou, porque olhando pra trás vejo quantas vezes já fui e não sou mais. As transformações da vida, as voltas em que ela nos leva, são fascinantes, mas também cansativas. As coisas nunca param, a roda sempre gira, e às vezes não tenho tempo nem mesmo de acostumar ao que virei e... já estou diferente de novo. Acho que é por isso que, olhando pro futuro, não sou desses que diz de boca cheia que quer viver cem anos. Não, é muita coisa. Não preciso de tanto. Não sei se aguento tanto. Viver dá muito trabalho.
Sou ator. E para poder ser ator, me desdobro nas aulas de espanhol e nos freelas de tradução, revisão e assessoria de imprensa. Faço qualquer coisa que der – mas aprendi que dignidade não se vende.
Sou de Áries, mas o elemento que menos tenho no meu mapa é fogo. A verdade é que sou um grande pisciano, com uma neca de fogo que me faz não ter medo de seguir em frente, por mais escuro que tudo pareça. Mas não tem jeito: sou da água do mar, lá do meio do oceano, onde tudo parece infinito demais, profundo demais, grande demais para que eu mesmo consiga... não sei.
Pensar em como me apresentar foi absolutamente desesperador. E sei que não me apresentei. O ponto é que é difícil dizer quem sou, porque olhando pra trás vejo quantas vezes já fui e não sou mais. As transformações da vida, as voltas em que ela nos leva, são fascinantes, mas também cansativas. As coisas nunca param, a roda sempre gira, e às vezes não tenho tempo nem mesmo de acostumar ao que virei e... já estou diferente de novo. Acho que é por isso que, olhando pro futuro, não sou desses que diz de boca cheia que quer viver cem anos. Não, é muita coisa. Não preciso de tanto. Não sei se aguento tanto. Viver dá muito trabalho.
domingo, 19 de outubro de 2014
Transvendo
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê o mundo.
É preciso tranver o mundo.
(Manoel de Barros)
Salvador Dalí
Ilustração para o livro Les Chants de Maldoror, do conde de Lautréamont
Dormência. Mate-me. Dormir. Produzir. Não Produzir. Criar. Respeito. Respeito-me. As facas com que corto o tempo, MEU TEMPO, são as mesmas que cortam minha garganta fatigada de nada. Fatigada mesmo de tudo.
Ah, se meu tempo fosse meu e não seu.
(por Ricardo Cabral)
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Pinceladas
O quarto tem essa coisa sonolenta.
A saudade não é uma coleção de momentos, memórias, conversas...?
Solidão em movimento.
Dançar no meio de estranhos.
EMBALADO versus EMBALAGEM
A saudade não é uma coleção de momentos, memórias, conversas...?
Solidão em movimento.
Dançar no meio de estranhos.
EMBALADO versus EMBALAGEM
Reação à gravura do Samuel
Dormência. Mate-me. Dormir. Produzir. Não produzir. Criar. Respeito. Respeito-me. As facas com que corto o tempo, MEU TEMPO, são as mesmas que cortam minha garganta fatigada de nada. Fatigada do mesmo de tudo. Ah, se meu tempo fosse meu e não seu.
Reação à música da Chris
Festa de família. É natal, talvez. É de noite. NÃO! Sou eu que fugi da família, fugi de casa, fugi de todo o mundo procurando todo o mundo. Sou eu buscando na solidão encontrar a mim e ao outro. Quem? Quando? Para. Vive. Vive, apenas. Rilke bem que me avisou que era para acostumar-se com a presença das perguntas, em vez de angustiar-se com a ausência das respostas. Era, disse ele, para admirar a beleza do não-saber, sem muito mais. Já não sei se foi exatamente isso o que ele disse, mas pelo menos foi assim que tudo aquilo se imprimiu em mim. Chega. Movimento, movimento, movimento. Barulho, barulho, barulho. Chega. A festa de família voltou. Tomo um gole de vinho, meio atordoado. Tudo passou muito rápido e agora me vejo outra vez aqui, sem saber exatamente por que. Chega.
Reação à pintura da Mariah
Van Gogh. Casa do Dudu. Cadeiras do Dudu. Silvia, segunda mãe. Eu me sentia - eu me sinto - à vontade para abrir a geladeira. Infância, riso, melhor amigo. Tempo. Diferença e estranheza. Superação da diferença. Distância. Distância com carinho. Um senso absurdo de estar à vontade nessa presença. Não preciso ser nada além do que já sou. Não preciso provar nada.
Amizade é escolha depois que a gente cresce. É preciso fazer esforço pra estar com o outro. Senão nossa vida maluca nos leva a tantas direções diferentes que o encontro se torna difícil. Depois raro. Depois nunca.
Amizade é escolha depois que a gente cresce. É preciso fazer esforço pra estar com o outro. Senão nossa vida maluca nos leva a tantas direções diferentes que o encontro se torna difícil. Depois raro. Depois nunca.
Um pequeno menino
Um pequeno menino estava deitado na banheira. Era o primeiro banho no qual, segundo um antigo desejo seu, nem a mãe nem a ama estavam presentes. A fim de atender à ordem da mãe, que vez por outra lhe gritava alguma coisa do quarto contíguo, ele se esfregara ligeiramente com a esponja; então se esticara e deliciava-se com a imobilidade na água quente. A chama do aquecedor a gás zunia regularmente e, nele, o fogo evanescente crepitava. No quarto contíguo estava tudo quieto já havia bastante tempo, talvez a mãe houvesse se afastado.
-- Kafka, F.
-- Kafka, F.
Muito barulho
Estou aqui sentado em meu quarto, o quartel general do barulho de toda a casa. Ouço baterem todas as portas, devido ao seu barulho, sou poupado apenas dos passos daqueles que caminham entre elas, ouço ainda a porta do fogão sendo fechada. O pai arromba as portas de meu quarto e o atravessa arrastando a camisola. No aquecedor do quarto contíguo, as brasas estalam, Valli pergunta da antecâmara, bradando palavra por palavra se o chapéu do pai já foi limpo, um ciciar, que me soa muito conhecido, destaca ainda mais o grito da voz que responde. A maçaneta da porta da frente é abaixada fazendo um barulho como uma garganta catarrenta, e a porta continua se abrindo com o canto de uma voz feminina e fecha-se finalmente com um tranco abafado, masculino, que soa como o mais desconsiderado. O pai saiu, agora se inicia o barulho mais suave, mais espargido, mais desesperançado, liderado pelas vozes dos dois canários. Mesmo antes eu já pensara nisso, com os canarinhos volta a me ocorrer se não poderia abrir uma pequena fresta da porta, entrar no quarto contíguo me esgueirando como uma cobra e pedir então, assim no chão, silêncio às minhas irmãs e sua ama.
-- Kafka, F.
-- Kafka, F.
Assinar:
Postagens (Atom)